quarta-feira, 1 de maio de 2013

O ultimo dia -Capitulo 16






Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na tua e você sabe disso.
Gabito Nunes.
Eu ainda estava deitada, os braços em baixo da cabeça, a mente longe. Uma brisa fria entrava pela janela fria do segundo andar. Tentei mais uma vez criar coragem e levar, ver o que estava acontecendo lá em baixo, mas cada parte do meu corpo se recusava a fazer isso.

Bill tinha me deixado ali a meia hora atrás. Todos na casa estavam mobilizados para encontrar Edward, ofereci ajuda, mas Jessica disse que eu já tinha ajudado o suficiente, com a voz cheia de acusação. Encolhi-me mais no colchão ao lembrar daqueles olhos negros me olhando com  desaprovação.

O Sol já estava alto no céu quando eu decidi eu bastava de sentir pena de mim mesma. Vesti a calça jeans e um moletom limpo que Lay tinha me dado na noite anterior. Podia ouvir conversas abafadas e pessoas caminhando no andar de baixo.

Desci as escadas em silêncio e prossegui pela pequena sala. Parei bruscamente quando estrava na cozinha. Bill estava falando, sussurrando seria mais apropriado. Aproximei-me da parede a apurei os ouvidos.

-...Precisamos contar. – Lay disse com a voz infantil destorcida por alguma coisa. Choro.

-Eu sei, eu sei. – Bill levou as mãos à cabeça e começou a andar pela pequena cozinha, sua cabeça quase alcançando o teto baixo.  –Eu só não sei como contar para Mel.

Prendi a respiração e esperei ele dizer mais alguma coisa. A raiva crescendo destro de mim. Entrei na cozinha um segundo depois.

-O que você não sabe como contar para mim, Bill? – Os olhos de todos estavam em mim naquele momento, mas pela primeira vez não me importei. Bill permanecia em silêncio e isso só fazia minha raiva aumentar. –Bill?

-Eu...

-Bill?

-Não é nada.

-BILL!

-O garoto. Ele chegou muito perto da cidade... –As palavras saiam rápido de sua boca e pareciam quebra-se no chão enchendo meus ouvindo. Ele suspirou fundo antes de continuar, parecia cansado.  –Ele está mosto.

O chão parecia ter se aberto abaixo dos meus pés. As lágrimas queimavam nos meus olhos, dei alguns passos para trás para encontrar a segurança da parede novamente, a casa toda parecia tremer. Fechei os olhos e lá estava o garotinho, assustado, perdido, morto.  Pobre criança perdida.
Minha culpa. Tudo minha culpa.

Bill se aproximou e tocou meu rosto limpando as lágrimas. Recuei.

-Não toque em mim. –Disse com a voz destorcida.

Obriguei minhas pernas a me obedecer e subi as escadas o mais rápido possível. Eu não queria ver aquelas pessoas, não queria ser vista. A censura estava estampada no rosto de cada um. 

-Ela só precisa de um tempo, criança. –ouvi Abigail falar com a voz gentil quando alcancei o topo da escada.

Ela não costumava se posicionar sobre nenhum assunto, estava sempre calada, mas sempre disposta a ajudar qualquer um que precisasse. Como uma avó. Seu rosto era enrugado, cansado e emoldurado por cabelos brancos que ela mantinha presos em um coque no alto da cabeça. Sua expressão era sempre doce.


Entrei no pequeno banheiro e bati a porta. Observei minha imagem e refletida no espelho.

Assassina, disse para o meu reflexo.

Agachei-me atrás da porta e permaneci lá por minutos, horas, o tempo não parecia passar. Eu estava cansada, mas não queria dormi. Sabia que aquele garotinho estaria nos meus sonhos assim que fechasse os olhos.

Alguém bateu na porta. Ignorei. Mais uma batida, dessa vez mais forte e impaciente. Permaneci quieta e a pessoa forçou a fechadura com mais força ate ceder. Não se pode confiar em fechaduras velhas e enferrujadas.

Bill entrou no banheiro e bateu a porta atrás de si. Ele sentou-se ao meu lado e cruzou os braços, por um longo momento não disse nada.

-Já acabou? –Ele perguntou com a voz dura. Ergui uma sobrancelha com quem pergunta do que ele estava falando. – Eu ia te contar. Precisava de um tempo, porque sabia que você ia reagir exatamente assim, Mel.

-Eu pensei que podia confiar em você. E na primeira vez oportunidade você me fez de idiota. Disse que me amava.

-E amo! E não entendo porque está reagindo assim.

-POR QUE VOCÊ NÃO IA ME CONTAR, BILL! –Deixei que toda minha raiva, frustação e culpa caísse sobre ele como uma montanha de lixo. Não queria ouvi-lo, não queria vê-lo, porque sabia que um minuto olhando para aqueles olhos e toda a minha raiva estaria reduzida a nada e eu precisava sofrer.  Parecia justo com Edward que eu sofresse por tê-lo feito sofrer.

-Quer que eu saia? –Ele perguntou depois de um minuto. A voz assumindo o tom de sempre, calmo, suave, quase cantado.

-Sim. –Eu não queria realmente.

-Eu te amo.

Bill continuou parado na minha frente mais um instante, talvez esperasse ouvir que eu o amava e que só precisava de um tempo para pensar. Abri a boca para dizer tudo isso, mas a palavras caíram mortas no chão sem nunca serem pronunciadas.  Respirei fundo e tentei novamente:

-Me desculpe. –Foi tudo o que consegui.

Bill abaixou-se novamente e abraçou meus ombros, deitei a cabeça no seu peito e chorei novamente ate encharcar o colarinho da sua blusa.

-Não foi culpa sua. –Ele repetia, mas acreditar nessas palavras era impossível.

Parecia ter se passado uma eternidade quando levantei a cabeça e toquei levemente seus lábios.  Ele me prendeu mais contra seu corpo e se aprofundou no beijo, seu gosto estava nos meus lábios e me fazia querer mais.


-Desculpe. –Disse ofegante.

Bill segurou minha mão e me ajudou a levantar, depois me prendeu contra a parede. Joguei os braços em volta do seu pescoço e o prendi em um abraço, ele segurou minha cintura e pressionou os quadris contra os meus.

Suas mãos escorregaram pelas minhas costas, por baixo do moletom, e seus dedos se prenderam no fecho do meu sutiã.

-Sabe, eu dei um jeito no nosso pequeno problema de controle de natalidade. –Bill disse sorrindo enquanto tirava um pequeno envelope preto do bolso. Camisinha.

Um pequeno sorriso se formou no meu rosto antes que eu pudesse evitar. Era isso que eu gostava nele, ele me fazia sorri, me fazia sentir-se boba como uma adolescente apaixonada, mas também me fazia sentir amada.

O empurrei para trás e tirei o moletom. Bill sorriu novamente.  Tirei a calça jeans e se seu sorriso aumentou.

-Sua vez. –Eu disse rindo.

-Não, eu espero você termina. –Bill disse se recostando na pia.

-Sem gracinha, Kaulitz.

Ele começou a abrir botão por botão da blusa enquanto eu seguia seus dedos com o olhar.

-Não quer ajudar?

Mordi o lábio inferior. Aproximei-me novamente. Seus olhos estavam em mim enquanto eu terminava de tirar sua blusa e joga-la no chão com as mãos tremulas. Percebi que nunca quis tanto ter uma pessoa como eu queria tê-lo naquele momento. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O ultimo dia- Capitulo 15



Quando sentiu intensamente que um dia desapareceria é que pôde entender exatamente o quanto a vida era infinitivamente valiosa. E quando maior e mais clara era uma face da moeda, tanto maior e mais clara se tornava a outra. Vida de morte eram os dois lados de uma mesma coisa.
O Mundo de Sofia.
As nuvens escuras surgiam no horizonte transformando o claro do dia em trevas, a chuva cairia em breve e eu ainda não tinha conseguido encontrar Edward. Um desespero repentino tomou conta de mim, e se eu não o encontrasse? Como teria coragem de voltar para casa e contar para todos que ele havia sumido?

Apressei o passo pela estrada vazia. Fazia horas que estava caminhando e nenhum sinal de vida. Um vento frio bateu contra o meu rosto fazendo os cabelos da minha nuca se eriçarem, xinguei-me em pensamento por não ter pegado meu casaco.

-Edward! –Chamei pela milésima vez sem resposta.

Os pingos de chuva começavam a cair alimentando meu desespero ao imaginar aquela pobre criança sozinha.

Não vá para cidade, implorei em pensamento.

Alguns minutos depois o sol tinha sido coberto por nuvens espessas e escurar, a estrada agora era desconhecida e duas vezes mais assustadora. Sem pensar muito bem entrei no matagal ao lado do asfalto, pelo menos era mais difícil ser encontrada por um zumbi ali. Abrigaria-me no meio do mato e quando a chuva passasse voltaria para a estrada.

Era difícil caminhar em meio à vegetação densa, mal tinha tempo de desviar de um galho e outra já estava na minha frente, os espinhos das plantas rasgavam minha roupa e minha pele deixando uma trilha para trás que poderia ser facilmente seguida por um zumbi.

Abriguei-me em baixo de uma árvore. Não tinha notado que estava tão cansada ate está lutando para permanecer acordada.

Não tinha notado que tinha pegado no sono ate senti um par de mãos escorregarem pelos meus ombros. Levantei-me em um pulo me debatendo e gritando, as mãos envolveram minha cintura e me levantaram a alguns centímetros do solo.

-Sou eu! –Uma voz baixa e familiar falou poucos centímetros longe do meu ouvido.

-Gustav?

-Sim. –Ele me colocou novamente no chão e começou a procurar alguma coisa no bolso.

O observei tirar o um rádio utilizado, normalmente, pela policia.

-Tom? Tom, está me ouvindo? -  A resposta de confirmação veio rapidamente. – A encontrei. Vai para a casa, estamos voltando.

 Não tinha notado que a noite já havia caído ate alcançarmos a estrada. Durante todo o caminho Gustav não falou, isso só aumentava meu temor. Seria mais fácil se ele gritasse comigo por ter perdido o garoto em vez de caminhar calado ao meu lado me puxando pelo braço.

Todos estavam reunidos em voltada da pequena mesa da cozinha quando entramos na casa. Mantive o olhar baixo, mas podia sentir o peso de todos aqueles olhos me censurando. 

-Ela está cansada. –Reconheci a voz infantil de Lay. – Vou levar ela lá para cima e ajuda-la com o banho. Qualquer coisa que tenham para discutir pode ficar para amanhã.

Ninguém disse nada. Fiquei agradecida quando Lay envolveu sua mão na minha e me arrastou escada a cima. Eu sabia que Bill estava ali e realmente não queria ter que ouvi-lo gritar comigo. Não naquela noite.

-Estão muito bravos, não é? –Perguntei quando ela trancou a pequena porta do banheiro atrás de nós.

-Estão preocupados só isso.

Me sentei em um pequeno banco ao lado da pia enquanto ela limpava os cortes nos meus braços.

-Bill está muito bravo? – Mantive o olhar baixo enquanto esperava a resposta, porque não sabia se queria ouvi-la.

-Não imagina as coisas que ele disse que fazia com você se te encontrassem viva. –Lay deu um riso baixo antes de continuar. – Eu ate teria medo por você se não soubesse que era tudo blefe. Ele estava muito preocupado, pensei que faria um buraco no chão de tanto caminhar de um lado para o outro. Tom nem o deixou sair para te procurar.

Meia hora depois eu estava deitada no pequeno chão no canto do quarto escuro que era usado como dormitório e incrivelmente agradecida por Lay ter me deixado sozinha ali.

A porta se abriu e uma pequena fresta de luz invadiu o cômodo, estava sonolenta demais para distinguir que estava na porta ate a pessoa se aproximar e cair de joelhos ao lado de meu colchão.  

-Está muito cansada? –Bill perguntou me arrumando sobre o  travesseiro. Balancei a cabeça uma vez. – Você quase me matou hoje quando voltei e descobri que não estava aqui, Mel.

-Está bravo? – Sussurrei.

-Eu deveria está, mas não.

-Eu só queria encontrar o garoto.

Ele escorregou as mãos pelas minhas costas me fazendo levantar e segurou meu corpo junto ao seu em um abraço apertado. Um daqueles abraços que te protegem de tudo.

-Você é minha e eu não posso te perde. –Bill disse com os lábios próximos aos meus. –Eu mataria qualquer um que tentasse te fazer mal, Mel. Eu vi coisas naquela cidade hoje que... As pessoas estão enlouquecendo, não existem mais mocinhos.

Segurei seu rosto, os olhos estavam escuros, o rosto cansado. Dei um meio sorriso e toquei seus lábios rapidamente.

-Eu te amo. –Disse afundando a cabeça no peito de Bill. –Não espero que sinta o mesmo, só quero que saiba.

Houve um silencio longo antes que ele dissesse qualquer coisa. Sua boca abriu-se duas vezes, mas nenhuma palavra foi pronunciada.

-Te amo também. –Bill disse finalmente. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O ultimo dia -Capitulo 14


Não era meu dia. Não era minha semana. Não era meu mês. Não era meu ano. Não era a porra da minha vida.
Charles Bukowski

O sol tocou o meu rosto, abri os olhos de vagar. Era tão estranho ter uma cama quente e confortável depois de tanto tempo que me senti estranha.

A maioria das pessoas do grupo já tinha levantado. Bill não estava mais ao meu lado, tinha me dito na noite anterior, aos cochichos antes de dormi, que iria com Tom e Georg a cidade assim que amanhecesse.

Ele passaria a noite lá e voltaria no dia seguinte, isso me manteve acordada por algumas horas.  Só não estava mais preocupada por que sabia que ele estaria com Tom e ele cuidaria de Bill como sua própria vida. Era estranho com um se comportava perto do outro, mesmo que estivem quase o tempo todo discutindo ou fazendo piadinhas, se pareciam com um planeta e seu satélite, se um fizesse um mínimo movimento o outro se movimentava em seguida automaticamente.

Depois de alguns minutos tomando coragem para enfrentar o restante do grupo sozinha desci ate a cozinha. Quase todos estavam lá, comiam e falavam alto, e com exceção de Lay, ninguém notou minha presença.  Ela sentou-se comigo em um canto e comeu calada ao meu lado. Parecia nervosa, o rosto pequeno desfigurado pela preocupação que ela se esforçava para esconder.

-Eles vão ficar bem. –Disse dando uma mordida em um pedaço de pão para disfarça o meu próprio nervosismo.

-Eu devia ter ido junto... –Lay levou as mãos à cabeça. – Tom sempre consegue me convencer a deixa-lo ir sozinho!

-O papo furado deve ser de família- Dei um sorriso amarelo para a garota.

Quando o café terminou ela me levou para um passeio rápido ao redor da pequena casinha, as duas crianças corriam logo atrás de nós.
Nos fundos da casa ficavam uma horta pequena, que era cuidada carinhosamente por Abigail, e o poço que abastecia toda a casa.

-Nós o mantemos sempre fechado para não cair nada que contamine a água. Estaríamos mortos se isso acontecesse. –Lay disse batendo na pesada tampa de madeira sobre a borda do poço.

 O trabalho era grande na casa e antes do meio dia eu já estava morta. Tinha passado boa parte da manhã cuidado da horta na companhia de Edward que brincava a alguns metros de distancia e só quando me sentei para descansar  dei por sua falta.

-Lay! – Entrei na casa correndo e a puxei para o canto longe do restante das pessoas que me observavam curioso.  –Edward... Entrou aqui?

Ela me olhou assustada por alguns instantes antes de negar com a cabeça.

-Ok. Fique aqui, caso ele volte. Não diga nada a ninguém. Vou sair e procurar por perto, ele não pode ter ido muito longe. – Tudo isso fazia sentindo na minha cabeça, mas meu coração parecia preste a estourar o peito. Eu não sabia realmente o que fazer se não o encontrasse.

-E se Bill voltar antes que você? – O rosto dela começava a abandonar o tom rosado de sempre assumir um esverdeado como se estivesse prestes a vomitar.

-Não diga nada. Ele não vai voltar antes.

Afastei-me e caminhei ate a pia, peguei uma das facas e sai apressada. Podia sentir os olhos de Jessica nas minhas costas quando batia porta.

Caminhei ate a cerca sem saber realmente o que fazer, mal podia sentir o chão sob os meus pés.  Talvez ele estivesse na estrada, sim ele estaria na estrada e eu o encontraria e tudo ficaria bem novamente. Repeti isso mentalmente milhares de vezes enquanto seguia o caminho, mas não o suficiente para me convencer.  

Mentir para si mesmo é mais difícil do que mentir para as outras pessoas. 

domingo, 14 de abril de 2013

O ultimo dia- Capitulo 13



É que você me tira o sentido, sabe? Você faz a vida ser muito mais complicada do que é. E você faz a minha loucura ser mais intensa do que é. E o meu amor, então, nem se fala.
arcádico.

A noite estava silenciosa, nenhum barulho para me assusta, mas por mais que eu tentasse não conseguia dormi.  Bill tinha a cabeça apoiada nas minhas pernas e eu entrelaçava os cabelos dele repetidas vezes. Sua respiração era calma e baixa, talvez eu dormisse por que tinha medo de que quando acordasse descobrisse que aquilo tudo não tinha passado de um sonho e ele não estava mais ali.

Quando o Sol apareceu no horizonte todos já estavam de pé. Pelo o que Tom tinha dito tínhamos mais de uma hora de caminha ate chegar à casa onde o restante do grupo estava.

Saímos pela porta dos fundos da pequena confecção, demos a volta na rua apressados. A quantidade de zumbis na frente do prédio ainda era muito grande.

Bill entrelaçou seus dedos nos meus quando alcançamos a avenida principal. Torci para ele não notar o quanto minha mão estava fria e soada. Desde a noite passada quando o perigo de perdê-lo esteve tão forte alguma coisa mudou, eu gostava de Bill antes, mas agora começava a perceber que o amava. E o mais assustador era não saber o tamanho desse sentimento.

Não sabia como seria quando chegássemos ao abrigo. Talvez qualquer coisa que Bill sentisse por mim fosse devido ao fato de pensar que talvez eu pudesse ser a última pessoa que  ele veria, mas agora sabendo que existiam outras talvez isso mudasse.

Aquele pensamento vez meu coração bater dolorosamente como se tivesse sendo puxado em todas as direções. A expressão coração partido sempre me pareceu uma figura de linguagem, mas naquele momento foi como se ele realmente estivesse partido, sangrando, me matando lentamente. Odiei-me por me sentir assim em relação a Bill e o odiei mais ainda por me fazer me sentir assim.

O Sol estava alto no céu quando nos aproximávamos da estrada que saia da cidade, a alguns metros já podíamos ver uma pequena casinha surgi em meio à vegetação. Apressamos o passo.

A casa era pequena, rustica e de aparência antiga e decadente. Tinha dois andares mal estruturado, uma cerca alta de madeira se erguia em volta assim como algumas plantas. Imaginei que aquela cerca tivesse sido construída depois que Tom e os outros chegaram à propriedade.

Um pequeno grupo de pessoas se reunia em frente a casa. Uma mulher de cabelos brancos e aparência cansada, uma garota loira de rosto delicado, um homem de cabelos curtos que exibia um grande sorriso, um senhor de idade, duas crianças e uma outra garota que não parecia ter mais que dois anos a mais que eu.

O homem mais jovem e a garota correram na nossa direção. Ela abraçou Tom de uma forma nada platônica o que me deixou chocada, ele não me pareceu o tipo de casos românticos. O rapaz abraçou Bill.

-Você conseguiu, cara! –Ele disse sorrindo.

-É claro que consegui! Um dia esse mundo vai voltar ao normal e a nossa banda não é nada sem mim, Georg. – Ele deu uma gargalhada alta.

Um a um o grupo foi se apresentando. O homem e a mulher mais velha chamavam-se  Abigail e Charles Stheuy e eram os donos da propriedade, a garota que abraçara Tom era  Lay, tinha sido salva por  ele durante a viajem do grupo para Chicago, a outra garota era Jessica, as duas crianças eram Edward e Mendy.

A casa por dentro era ainda menor do que parecia e me perguntava como conseguia abrigar tantas pessoas. O andar de cima era usado como quarto e o de baixo como cozinha. No final do corredor no segundo andar ainda tinha um pequeno banheiro.

-Acho que vão ficar um pouco grandes, mas foram todas as roupas que consegui. –Lay disse me entregando uma blusa de moletom e uma calça jeans. –Também trousse shampoo e sabonete.

-Obrigada! Serio, acabei de ganhar meu dia com isso. –Ela riu e saiu em seguida para que pudesse tomar banho.

Tirei as roupas sujas e antes de entrar em baixo do velho chuveiro me permiti uma olhada rápida no espelho.  Meu rosto estava horrível, sujo de terra e queimado pelo sol, os cabelos estava desgrenhados e embaraçados.
Mais um pouco e você podia se passar por um dos zumbis, disse para o meu reflexo.
A água era gelada, tão gelada que chegava a doer, mas mesmo assim era bom, não devia parecer tão bom.  Fechei os olhos e me encostei-me à parede deixado que a água limpasse não só o meu corpo, mas também minha alma.

Sobressaltei-me assustada quando ouvi a porta sendo aberta e fechada novamente. Bill estava apoiado na pia, um meio sorriso nos lábios.

- To tomando banho! –Disse procurando a toalha.

-Isso eu pude percebe. –Seu sorriso aumentou enquanto tirava a camisa. Prendi a respiração. –Sabe, é muito difícil conseguir água hoje em dia para desperdiça-la tomando banho uma pessoa de cada vez.

Bill  caminhou ate mim, seus lábios tocaram meu pescoço me fazendo arrepiar, suas mãos escorregaram pelas minhas costas e depois pela linha dos seios. Respirei ofegante e espalmei as minhas contra seu peito.  

-Para. – Ele riu baixo e mordiscou o lóbulo da minha orelha. Estremeci. –Por que está fazendo isso?

-Porque eu te quero. – Bill disse antes de me beijar de vagar.

Era difícil pensar em todas as objeções que passavam pela minha cabeça quando ele estava tão perto. Agarrei seus cabelos o puxando para mais perto ainda

-E o controle de natalidade? –Perguntei ofegante.

-Acho que preciso resolver isso na próxima excursão ate a cidade.

Meus olhos queimaram em lágrimas.

-Eu não quero que você volte lá.
Bill me olhou por algum instante depois me apertou contra seu corpo.

-Eu preciso cuidar do grupo agora, mas você sabe que eu sempre vou voltar, Mel. Eu te prometi isso lembra? – Balancei a cabeça uma vez. – Posso dormi com você hoje? Prometo que vou só dormi.

Limpei o rosto com as costas da mão e sorri.

-É claro. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O ultimo dia -Capitulo 12



 Sim, eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você.
Tati Bernardi.
Não importava o quão rápido eu corresse, nunca parecia o suficiente.  Virei à esquina que dava na rua principal e aumentei o passo ignorando a dor crescente nas minhas pernas, logo atrás de mim podia ouvir os passos rápidos de Tom e dos outros dois rapazes.

Minha visão estava embaçada pelas lágrimas. Eu não podia, simplesmente não podia, perde Bill. O que faria se ele tivesse sido mordido? Ficaria ao seu lado ate o momento em que a única coisa que ele desejasse fosse a minha carne. A imagem de Bill transformado em uma daquelas criaturas estava na minha cabeça todas as vezes que fechava os olhos.

Parei bruscamente alguns metros atrás de onde a aglomeração de zumbis estava.

-Aqui. –Disse com a voz embargada para Tom.

-Tem certeza? Eles não parecem está... Comendo nada.

-Tenho certeza. Talvez Bill tenha conseguido entrar no prédio... –Me agarrei ao ultimo fio de esperança.

-Ian. – Um garoto alto de longos cabelos negros e barba surgiu logo atrás de Tom. – Acha que ele ia conseguir entrar?

-Talvez. É difícil, mas não impossível.

Lancei um olhar interrogativo para Tom.

-Ian é bom em entra em lugares sem ser percebido.

-Eu era ladrão ates do apocalipse. – Ele deu uma risada baixa. –Brincadeira, era policial. – Sua expressão se tornou seria normalmente e ele prosseguiu. –Esse prédio é antigo, deve ter uma entrada pelos fundos, talvez na outra rua.

Antes que qualquer um pudesse reagir dei meia voltar e comecei a corre em direção a rua de trás ao prédio. Ian estava certo, realmente havia outra porta. Pequena e enferrujada, trancada por uma corrente grossa.

-Minha vez. – Um rapaz loiro me tirou do caminho e examinou a corrente.

-Sem fazer barulho dessa vez, Gustav. –Ian avisou fazendo uma careta. –Da ultima vez quase nos matou.

Gustav ignorou o comentário. Tirou da mochila que usava uma espécie de alicate, parecia grande e forte o suficiente para quebrar as correntes e era.

Fui à primeira entrar. A lanterna tremia na minha mão, a arma na outra mesmo que já não tivesse balas. O prédio era uma confecção, máquinas de costuras e manequins se amontoavam pelos cantos. Mesmo com a lanterna era escuro demais para se ver  a alguns metros de distância.

-Bill! Somos nós! –Tom falou ao meu lado, não tinha notado ate aquele momento que ele segurava com força o meu braço.

-Bill! Por favor, aparece. Sou eu, a Mel.

Assim que acabei de falar tropecei em alguma coisa, de inicio pensei ser um dos manequins, mas manequins não gemem de dor.

Entreguei a lanterna para Tom e cai de joelhos ao lado de Bill. Ele segurava com força o braço que sangrava.

-Você está vivo, cara! –Tom disse sentando-se ao meu lado e abraçando o irmão.

-É, mas dessa vez foi por pouco. –Bill deu uma risada se humor.

-Foi mordido? –Gustav perguntou agachando-se perto do braço que sangrava.

-Não. Eu tentei corre e cai em cima de uma flecha, não entrou no meu braço, mas fez um corte bem feio. –Pela primeira vez  Bill olhou para mim. –Conseguiu, garota.

-Tive tanto medo... Eu não sabia o que fazer. Eu não posso ter perde. – Ele estendeu a mão e acariciou o lado direito do meu rosto limpando as lágrimas.

-Também não posso te perde, Mel. Nunca. -  Bill levantou-se com alguma dificuldade me levando junto.  Passou o braço bom em volta da minha cintura e apertou-me contra seu corpo. Seus lábios tocaram os meus lentamente, com desejo como se aquele fosse nosso ultimo beijo.

-Parece que foi preciso o mundo acabar para o meu irmãozinho conseguir uma garota. –Tom disse para Gustav e Ian que riram como idiotas.

- Acho que eu gostava mais de você quando estava sumido. –Bill disse dando um meio sorriso. –E então, gênio da família, como vamos sair daqui?

-Do mesmo jeito que entramos, só que amanhã na luz do dia. Estamos em uma casa perto da cidade, é melhor fazer o caminho durante o dia.

Bill sentou-se ao lado do irmão enquanto eu fazia um curativo improvisado. Quando acabei deitei a cabeça em seu ombro, precisava tê-lo por perto, ter certeza que ele estava realmente ali nos meus braços. Ele estava bem.



terça-feira, 2 de abril de 2013

O ultimo dia -Capitulo 11



Eu corro por todas as ruas
E nenhuma me leva a você -Tokio Hotel


Bill estava parado ao meu lado, o arco a postos e a expressão de falsa calma. As ruas estavam lotadas, para todos os lados que se olhava zumbis caminhavam. Pela primeira vez duvidei que houvesse realmente sobreviventes naquele lugar.

-O que vamos fazer? –Perguntei me apertando ainda mais contra a parede.

-Eu...- Bill limpou a testa com a mão antes de continuar. O pânico agora se tornara claro em seu rosto. –Não sei. Devia ter te ouvir.

Bom, já era tarde. Continuamos uma caminhada lenta, sempre junto da parede. O escuro era um bom companheiro, estávamos quase imperceptíveis. Quase. Eu conhecia o bastante daquele mundo para saber que os zumbis podiam sentir o nosso cheiro.

Foram questão de segundos, em um momento estávamos caminhando e no segundo eu estava esbarrando em uma lixeira e todos os mortos vinham em nossa direção.

-CORRE! –Bill gritou soltando minha mão. –CORRE, MEL. VOU TENTAR SEGURAR ELES, CORRE E TENTA ENCONTRAR ALGUÉM!

Fiquei paralisada quando a primeira flecha foi lançada, corre para onde? Não tinha ninguém ali para nos ajudar e eu não podia deixar Bill sozinho, peguei a arma sem jeito e dei um tiro em direção aos zumbis.

-O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? MANDEI CORRER!

-Não tem ninguém aqui. Nós vamos morrer.

-EU MANDEI VOCÊ CORRE!  ANDA, SAI DAQUI, MEL!

Dei alguns passos para trás, talvez... Talvez pudesse ter alguém lá. Prendi-me a esse pensamento quando obriguei minhas pernas a correrem. Virei à esquina e segui por uma rua reta.

-SOCORRO! –Gritei seguindo adiante. Mais algumas ruas e nada. –SOCORRO!

Meus gritos chamaram atenção de alguns poucos zumbis, mas continuei correndo.  Entrei em um beco estreito e escuro. Tateei as paredes tentando me localizar e continuar andando. Meu corpo se chocou contra alguém e cai sentada.

A luz era pouca demais para ver direito a figura na minha frente, mas eu podia ver que era um homem, alto, com certeza, o formato do rosto também me era familiar.

-Bill? –Perguntei tentando alcançar a lanterna no bolço da minha mochila. –Bill, é você? – O homem não respondeu parecia paralisado exatamente onde tinha me encontrado.

Encontrei a lanterna e a liguei em direção ao rosto dele. Meu coração deu um pulo dolorido no peito. Não era Bill. As feições eram parecidas, o formato do rosto exatamente igual, assim como o da boca, do nariz e dos olhos, mas não era ele.

-Tom? –Perguntei com a voz embargada. Ele se aproximou e me levantou pelo braço.

-Quem é você e como sabe o meu nome?-Perguntou me sacudindo. – Conhece meu irmão?

-L-lá atrás. Ele está cercado, me mandou buscar ajuda.

-ENCONTREI A GAROTA QUE ESTAVA GRITANDO! –Tom gritou para mais dois homens que acabará de surgi na escuridão. –Meu irmão ficou para trás. Vamos busca-lo!

Continuei a encarar Tom por alguns instantes, não sabia que eram tão parecidos.

-Vamos, nos leve ate onde ele está!

Respirei fundo e comecei a corre em direção ao lugar onde tinha deixado Bill. Os três homens estavam bem atrás de mim, as armas prontas.
Implorei em pensamento para Bill está bem. O que eu faria se ele tivesse sido mordido? Mata-lo? Não, eu nunca permitiria isso e agora sabia que Tom também não, caso o contrário não estaria correndo junto comigo em direção a um suicídio quase certo.

terça-feira, 26 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 10


Porque amor é justamente isso, é ficar inseguro, é ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle.
Fabrício Carpinejar.


Estávamos a poucos quilômetros de Chicago, 5 talvez, Bill dormia no banco ao meu lado, a foto da garota morta entre os dedos. Chequei o ponteiro que marcava o nível de gasolina pela décima vez em  menos de meia hora, não teríamos o suficiente para chegar a cidade. Olhei ao redor, nenhum carro por perto ou casa, nada além de asfalto e árvores por quilômetros.

Bill se mexeu ao meu lado. Ele estava calado desde que deixamos Giovanni, o conhecia o bastante para saber que aquilo significava apenas o quanto ele estava chocado. Não tinha sequer notado que Bill tinha pegado a foto da garota ate ele pedir para eu dirigir e escorregar para o banco do carona. Tinha perdido a noção de quanto tempo Bill tinha ficado olhando aquela foto ate dormi.

-Estamos chegando. –Sussurrei quando ele se arrumou no banco.

-Acha que temos gasolina o suficiente para entrar na cidade?

-Duvido.

O silêncio tomou conta do carro novamente, sombrio e pesado.  Era quebrado apenas pelo barulho do motor ou vez ou outra pelo suspiro de um de nós dois.

O crepúsculo começava a cair quando o carro parou, já podíamos ver alguns prédios, a distância poderia facilmente ser vencida a pé, mas o que me preocupava era o que nos esperava.

-Nós podemos passar a noite no carro... –Comecei sem convicção.

-Pode ter alguns deles por aqui.

-Sim, mas lá com certeza tem. Sair desse carro é suicídio, Bill.

-Não me importa. Pode ficar se quiser, eu vou sair.

Pisquei algumas vezes, não podia acreditar no que tinha ouvido. Ele estava decidido e pouco se importava se eu iria junto ou não. Agora eu era descartável? Talvez.

-E seu irmão? Pense nele! Se você sair e for mordido?
-Eu nem tenho certeza se ele esta vivo. Eu não tenho mais certeza de nada. E se todas as pessoas que se importavam comigo, assim como essa garota, estiverem mortas?

-Eu não estou. –Sussurrei.

-É. Mas por quanto tempo, Mel? Eu não aguento mais e pouco me importo se um daqueles monstros nojentos me pegarem.

Permaneci parada o observando juntar suas coisas e sair do carro. Não que eu não quisesse segui-lo, apenas não conseguia me mexer. Quando finalmente consegui fazer meu corpo responder, peguei a mochila e comecei a correr atrás de Bill.

-ENTÃO É ASSIM? DISSE-ME  PARA LUTAR POR VOCÊ E AGORA VAI EMBORA? DISSE PARA SUPORTA TUDO PARA NÃO TE DEIXAR SÓ E EU O FIZ, AGORA FAÇA O MESMO POR MIM! –Ele continuava a andar como se não ouvisse meus gritos. – NÃO CONSIGO ACREDITAR QUE SEJA TÃO EGOÍSTA!

-pois eu sou! –Bill disse virando-se e agarrando meu braço com força. –Nunca prometi nada. Eu não sou forte, não sou bom e talvez seu maior erro tenha sido me ouvir.

-Isso é uma pena, porque agora eu simplesmente não posso mais virar as costas e te deixar seguir sozinho.

Sua mão escorregou pelo meu braço ate alcançar a minha.

-Você é uma idiota por isso.

Tudo que consegui fazer foi sorri. Só naquele momento percebi o quão dependente de Bill eu tinha me tornado, a ponto de arriscar minha própria vida para não ficar sem ele.

-Qual o plano? –Perguntei quando entramos na cidade.

-Quem disse que eu tenho um plano?


 As ruas eram escuras, os zumbis se arrastavam de um lado para o outro a procura de comida. Inconscientemente prendi a respiração como se só isso pudesse chamar a atenção deles para a nossa presença.

-Acho que o plano por enquanto é não virar comida. –Bill disse me puxando para perto da parede do prédio mais próximo.