sexta-feira, 19 de abril de 2013

O ultimo dia -Capitulo 14


Não era meu dia. Não era minha semana. Não era meu mês. Não era meu ano. Não era a porra da minha vida.
Charles Bukowski

O sol tocou o meu rosto, abri os olhos de vagar. Era tão estranho ter uma cama quente e confortável depois de tanto tempo que me senti estranha.

A maioria das pessoas do grupo já tinha levantado. Bill não estava mais ao meu lado, tinha me dito na noite anterior, aos cochichos antes de dormi, que iria com Tom e Georg a cidade assim que amanhecesse.

Ele passaria a noite lá e voltaria no dia seguinte, isso me manteve acordada por algumas horas.  Só não estava mais preocupada por que sabia que ele estaria com Tom e ele cuidaria de Bill como sua própria vida. Era estranho com um se comportava perto do outro, mesmo que estivem quase o tempo todo discutindo ou fazendo piadinhas, se pareciam com um planeta e seu satélite, se um fizesse um mínimo movimento o outro se movimentava em seguida automaticamente.

Depois de alguns minutos tomando coragem para enfrentar o restante do grupo sozinha desci ate a cozinha. Quase todos estavam lá, comiam e falavam alto, e com exceção de Lay, ninguém notou minha presença.  Ela sentou-se comigo em um canto e comeu calada ao meu lado. Parecia nervosa, o rosto pequeno desfigurado pela preocupação que ela se esforçava para esconder.

-Eles vão ficar bem. –Disse dando uma mordida em um pedaço de pão para disfarça o meu próprio nervosismo.

-Eu devia ter ido junto... –Lay levou as mãos à cabeça. – Tom sempre consegue me convencer a deixa-lo ir sozinho!

-O papo furado deve ser de família- Dei um sorriso amarelo para a garota.

Quando o café terminou ela me levou para um passeio rápido ao redor da pequena casinha, as duas crianças corriam logo atrás de nós.
Nos fundos da casa ficavam uma horta pequena, que era cuidada carinhosamente por Abigail, e o poço que abastecia toda a casa.

-Nós o mantemos sempre fechado para não cair nada que contamine a água. Estaríamos mortos se isso acontecesse. –Lay disse batendo na pesada tampa de madeira sobre a borda do poço.

 O trabalho era grande na casa e antes do meio dia eu já estava morta. Tinha passado boa parte da manhã cuidado da horta na companhia de Edward que brincava a alguns metros de distancia e só quando me sentei para descansar  dei por sua falta.

-Lay! – Entrei na casa correndo e a puxei para o canto longe do restante das pessoas que me observavam curioso.  –Edward... Entrou aqui?

Ela me olhou assustada por alguns instantes antes de negar com a cabeça.

-Ok. Fique aqui, caso ele volte. Não diga nada a ninguém. Vou sair e procurar por perto, ele não pode ter ido muito longe. – Tudo isso fazia sentindo na minha cabeça, mas meu coração parecia preste a estourar o peito. Eu não sabia realmente o que fazer se não o encontrasse.

-E se Bill voltar antes que você? – O rosto dela começava a abandonar o tom rosado de sempre assumir um esverdeado como se estivesse prestes a vomitar.

-Não diga nada. Ele não vai voltar antes.

Afastei-me e caminhei ate a pia, peguei uma das facas e sai apressada. Podia sentir os olhos de Jessica nas minhas costas quando batia porta.

Caminhei ate a cerca sem saber realmente o que fazer, mal podia sentir o chão sob os meus pés.  Talvez ele estivesse na estrada, sim ele estaria na estrada e eu o encontraria e tudo ficaria bem novamente. Repeti isso mentalmente milhares de vezes enquanto seguia o caminho, mas não o suficiente para me convencer.  

Mentir para si mesmo é mais difícil do que mentir para as outras pessoas. 

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