“Não era meu dia. Não era minha semana. Não era meu mês. Não era meu ano. Não era a porra da minha vida.”
— |
O sol tocou o meu
rosto, abri os olhos de vagar. Era tão estranho ter uma cama quente e confortável
depois de tanto tempo que me senti estranha.
A maioria das
pessoas do grupo já tinha levantado. Bill não estava mais ao meu lado, tinha me
dito na noite anterior, aos cochichos antes de dormi, que iria com Tom e Georg
a cidade assim que amanhecesse.
Ele passaria a noite
lá e voltaria no dia seguinte, isso me manteve acordada por algumas horas. Só não estava mais preocupada por que sabia
que ele estaria com Tom e ele cuidaria de Bill como sua própria vida. Era
estranho com um se comportava perto do outro, mesmo que estivem quase o tempo
todo discutindo ou fazendo piadinhas, se pareciam com um planeta e seu satélite,
se um fizesse um mínimo movimento o outro se movimentava em seguida
automaticamente.
Depois de alguns
minutos tomando coragem para enfrentar o restante do grupo sozinha desci ate a
cozinha. Quase todos estavam lá, comiam e falavam alto, e com exceção de Lay, ninguém
notou minha presença. Ela sentou-se
comigo em um canto e comeu calada ao meu lado. Parecia nervosa, o rosto pequeno
desfigurado pela preocupação que ela se esforçava para esconder.
-Eles vão ficar bem.
–Disse dando uma mordida em um pedaço de pão para disfarça o meu próprio nervosismo.
-Eu devia ter ido
junto... –Lay levou as mãos à cabeça. – Tom sempre consegue me convencer a
deixa-lo ir sozinho!
-O papo furado deve
ser de família- Dei um sorriso amarelo para a garota.
Quando o café
terminou ela me levou para um passeio rápido ao redor da pequena casinha, as
duas crianças corriam logo atrás de nós.
Nos fundos da casa
ficavam uma horta pequena, que era cuidada carinhosamente por Abigail, e o poço
que abastecia toda a casa.
-Nós o mantemos
sempre fechado para não cair nada que contamine a água. Estaríamos mortos se
isso acontecesse. –Lay disse batendo na pesada tampa de madeira sobre a borda
do poço.
O trabalho era grande na casa e antes do meio
dia eu já estava morta. Tinha passado boa parte da manhã cuidado da horta na
companhia de Edward que brincava a alguns metros de distancia e só quando me
sentei para descansar dei por sua falta.
-Lay! – Entrei na
casa correndo e a puxei para o canto longe do restante das pessoas que me
observavam curioso. –Edward... Entrou
aqui?
Ela me olhou
assustada por alguns instantes antes de negar com a cabeça.
-Ok. Fique aqui,
caso ele volte. Não diga nada a ninguém. Vou sair e procurar por perto, ele não
pode ter ido muito longe. – Tudo isso fazia sentindo na minha cabeça, mas meu
coração parecia preste a estourar o peito. Eu não sabia realmente o que fazer
se não o encontrasse.
-E se Bill voltar
antes que você? – O rosto dela começava a abandonar o tom rosado de sempre
assumir um esverdeado como se estivesse prestes a vomitar.
-Não diga nada. Ele
não vai voltar antes.
Afastei-me e
caminhei ate a pia, peguei uma das facas e sai apressada. Podia sentir os olhos
de Jessica nas minhas costas quando batia porta.
Caminhei ate a cerca
sem saber realmente o que fazer, mal podia sentir o chão sob os meus pés. Talvez ele estivesse na estrada, sim ele
estaria na estrada e eu o encontraria e tudo ficaria bem novamente. Repeti isso
mentalmente milhares de vezes enquanto seguia o caminho, mas não o suficiente
para me convencer.
Mentir para si mesmo
é mais difícil do que mentir para as outras pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário