“Uma vez Augusto Curry disse: Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida.”
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Eu estava correndo.
Correndo sem uma direção aparente, desesperada, sozinha... Eu não sabia o que
estava atrás, tinha medo demais para parar e olhar, porque sabia que aquilo
seria a ultima coisa que veria. Mas alguns
metros e eu estava no chão enquanto quem ou o que me perseguia se
aproximava tornando tudo a minha volta gelado e assustador.
Acordei sobre saltada, o
rosto coberto por uma camada de suor. Tateei sobre a cama procurando a
lanterna, mas tudo que encontrei foi a lata de sardinha vazia que tinha sido
nosso jantar.
Apertei os olhos tentando
ver melhor o quarto. A luz que vinha da lua produziu uma sombra alta contra a parede.
Um homem.
-Bill? –Sussurrei. –O que está
fazendo de pé?
- O que? –Ele perguntou ao
meu lado. Meu coração deu pulo no peito e o ar me faltou quando a adrenalina
foi despejada no meu sangue. – Mel? O que foi?
Senti a mão de Bill tocar
o meu ombro. Abri a boca para falar, mas nada saiu. Estiquei o braço tremulo e
apontei para a sombra a nossa frente.
-Quem está ai? – Bill perguntou
para a escuridão.
Um clarão forte encontrou
meu rosto me cegando por alguns segundos. Um homem segurava uma lanterna em uma
das mãos e uma arma na outra. A minha arma.
Não parecia ter menos de 60
anos, cabelos e barba brancos. Uma expressão ameaçadora sobre todas aquelas rugas.
Durante todo aquele tempo
eu tinha aprendido apenas uma coisa: O extinto de sobrevivência e o ódio humano
eram mais destrutivos e perigosos que qualquer zumbi.
-Quem são vocês e o que
estão fazendo na minha casa?
-Eu sou Bill e ela é
Melinda. –Bill começou a dizer levantando-se com os braços erguidos. –Não sabíamos
que tinha alguém aqui. Desculpe.
-Hum. Foram vocês que
chamaram a atenção dos zumbis para o mercado?
-Sim. –Sussurrei. –Fui eu.
-Eu devia estourar os
miolos de você por isso. Agora nem posso chegar perto para buscar mantimentos.
O lugar está infestado.
-Não tivemos a intenção.
Fui atacado e ela não tinha outra opção.
O velho nos observou por
alguns minutos antes de abaixar a arma.
-Como disse que se chama
mesmo?
-Bill.
Ele nos deu as costas e
começou a revirar uma das gavetas de uma velha cômoda ao seu lado.
-Bill Kaulitz?
-Sim.
-Eu sabia! Ela ia ficar
tão feliz...
-Ela quem?-Perguntei.
-Minha neta. Ela era uma fã desse rapaz. – O senhor
esticou a mão com uma fotografia amaçada e manchada nela. Uma garota loira
sorria para câmera, nos braços um pôster com a foto de quatro rapazes. Um deles
era Bill, mais joven , mas sem duvidas era ele.
Levantei o olhar para vê-lo.
A cor tinha sumido de seu rosto, os olhos estavam vidrados no rosto da garota.
-Onde ela está?
-Morta.
A foto tremeu nas mãos de
Bill. Uma única lágrima escorreu no seu rosto, mas ele a limpou depressa.
-Meu nome é Giovanni. – O velho
disse pegando a foto.
-Morta. –Bill repetiu em
voz baixa.
Giovanni era um imigrante
italiano. O único sobrevivente da sua família. Escolhera ficar na casa que
morou durante anos com sua esposa. E graças a nós não tinhas mais como continuar ali.
-Pode vim conosco se
quiser. – Eu disse quando o Sol começou a surgir no horizonte. – Quer dizer,
foi culpa nossa o que aconteceu e...
-Eu agradeço, mas não. De
qualquer forma esse seria meu ultimo dia. Podem pegar a água que encontraram e
tem comida na segunda gaveta da cômoda.
Bill abriu a boca, mas
antes de dizer qualquer coisa a compreensão espalhou-se pelo seu rosto.
Desistir. Era isso afinal o que as pessoas faziam. Giovanni não tinha mais pelo
que lutar, assim como eu não tinha ate uns dias trás. E assim como eu ele
achava que a morte era o melhor fim para aquele pesadelo. Não havia dor após
esta morto, nem saudade, nem medo.
Colocamos as garrafas com
água no porta-malas. Da soleira da porta o senhor nos deu adeus com um sorriso no rosto. Tínhamos
acabado de ligar o motor quando a porta se fechou e ouvimos o tiro, um só e depois
mais nada apenas o fim.
continua por favor
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