sexta-feira, 22 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 9




Uma vez Augusto Curry disse: Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida.
One Tree Hill

Eu estava correndo. Correndo sem uma direção aparente, desesperada, sozinha... Eu não sabia o que estava atrás, tinha medo demais para parar e olhar, porque sabia que aquilo seria a ultima coisa que veria. Mas alguns  metros e eu estava no chão enquanto quem ou o que me perseguia se aproximava tornando tudo a minha volta gelado e assustador.

Acordei sobre saltada, o rosto coberto por uma camada de suor. Tateei sobre a cama procurando a lanterna, mas tudo que encontrei foi a lata de sardinha vazia que tinha sido nosso jantar.  
Apertei os olhos tentando ver melhor o quarto. A luz que vinha da lua produziu uma sombra alta contra a parede. Um homem.

-Bill? –Sussurrei. –O que está fazendo de pé?

- O que? –Ele perguntou ao meu lado. Meu coração deu pulo no peito e o ar me faltou quando a adrenalina foi despejada no meu sangue. – Mel? O que foi?

Senti a mão de Bill tocar o meu ombro. Abri a boca para falar, mas nada saiu. Estiquei o braço tremulo e apontei para a sombra a nossa frente.

-Quem está ai? – Bill perguntou para a escuridão.
Um clarão forte encontrou meu rosto me cegando por alguns segundos. Um homem segurava uma lanterna em uma das mãos e uma arma na outra. A minha arma.
Não parecia ter menos de 60 anos, cabelos e barba brancos. Uma expressão ameaçadora sobre todas aquelas rugas.

Durante todo aquele tempo eu tinha aprendido apenas uma coisa: O extinto de sobrevivência e o ódio humano eram mais destrutivos e perigosos que qualquer zumbi.

-Quem são vocês e o que estão fazendo na minha casa?  

-Eu sou Bill e ela é Melinda. –Bill começou a dizer levantando-se com os braços erguidos. –Não sabíamos que tinha alguém aqui. Desculpe.

-Hum. Foram vocês que chamaram a atenção dos zumbis para o mercado?

-Sim. –Sussurrei. –Fui eu.

-Eu devia estourar os miolos de você por isso. Agora nem posso chegar perto para buscar mantimentos. O lugar está infestado.

-Não tivemos a intenção. Fui atacado e ela não tinha outra opção.

O velho nos observou por alguns minutos antes de abaixar a arma.

-Como disse que se chama mesmo?

-Bill.

Ele nos deu as costas e começou a revirar uma das gavetas de uma velha cômoda ao seu lado.

-Bill Kaulitz?

-Sim.

-Eu sabia! Ela ia ficar tão feliz...

-Ela quem?-Perguntei.

-Minha neta.  Ela era uma fã desse rapaz. – O senhor esticou a mão com uma fotografia amaçada e manchada nela. Uma garota loira sorria para câmera, nos braços um pôster com a foto de quatro rapazes. Um deles era Bill, mais joven , mas sem duvidas era ele.

Levantei o olhar para vê-lo. A cor tinha sumido de seu rosto, os olhos estavam vidrados no rosto da garota.

-Onde ela está?

-Morta.

A foto tremeu nas mãos de Bill. Uma única lágrima escorreu no seu rosto, mas ele a limpou depressa.

-Meu nome é Giovanni. – O velho disse pegando a foto.

-Morta. –Bill repetiu em voz baixa.
Giovanni era um imigrante italiano. O único sobrevivente da sua família. Escolhera ficar na casa que morou durante anos com sua esposa. E graças a  nós não tinhas mais como continuar ali.

-Pode vim conosco se quiser. – Eu disse quando o Sol começou a surgir no horizonte. – Quer dizer, foi culpa nossa o que aconteceu e...

-Eu agradeço, mas não. De qualquer forma esse seria meu ultimo dia. Podem pegar a água que encontraram e tem comida na segunda gaveta da cômoda.

Bill abriu a boca, mas antes de dizer qualquer coisa a compreensão espalhou-se pelo seu rosto. Desistir. Era isso afinal o que as pessoas faziam. Giovanni não tinha mais pelo que lutar, assim como eu não tinha ate uns dias trás. E assim como eu ele achava que a morte era o melhor fim para aquele pesadelo. Não havia dor após esta morto, nem saudade, nem medo.

Colocamos as garrafas com água no porta-malas. Da soleira da porta o senhor nos  deu adeus com um sorriso no rosto. Tínhamos acabado de ligar o motor quando a porta se fechou e ouvimos o tiro, um só e depois mais nada apenas o fim.



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