domingo, 10 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 6



Definitivamente, viver não é fácil. Como somos frágeis, meu Deus. E como as coisas mudam rápido. Não dá tempo para pensar, para juntar o que restou. Voltar atrás é impossível. Ah, essas impossibilidades da vida. Elas nos pregam peças e fazem lágrimas descerem pelo rosto afora.
Clarissa Corrêa


Eu gosto da inconsciência, quando durmo tudo e seguro de novo. Sou só eu e eu mesma, sem medo, sem dor, e naquela noite, sem sonhos dolorosos.
Por isso quando o Sol atravessou o vidro do carro e tocou o meu rosto me esforcei ao máximo para continuar dormindo. Dei um suspiro baixo e frustado quando percebi que era inútil e ouvi uma risada rouca centímetros acima da minha cabeça.

-Bom dia?- Bill disse quando abri os olhos. Ele se curvou sobre mim e aproximou seu rosto do meu, levante-me depressa .

-Sobre ontem...

Outro sorriso e outro pulo doloroso do meu coração. Eu precisa de Bill, não só pela questão da sobrevivência, eu dava valor a sua amizade, mas apenas a sua amizade. Não é?

- Eu disse que não ia tentar nada, Mel. Nada que eu ache que você não queira pelo menos.  -Ele disse me lançando um meio sorriso de deboche.

Me encolhi novamente contra a janela do carro, permanecemos em silêncio por alguns minutos. O silencio nunca me incomodou, pelo contrario, sempre me pareceu muito agradável, mas ao lado de Bill ele era perturbador. Era como uma nuvem tóxica contaminando o ambiente.

Seus olhos eram quase negro, profundos. Absorviam tudo ao seu redor e não devolviam  nada, isso me deixa perturbada. Mais perturbada ainda porque eu sempre parecia me perde naqueles olhos.

-Tudo bem. Acho que é melhor pegarmos a estrada agora. -Bill disse depois de um momento. Respirei fundo tentando lembrar como se fazia para pensar logicamente novamente.

-Eu dirijo. Você passou a noite acordado.

-Não seria irônico? O mundo acabando e Bill Kaulitz sofrendo um acidente de carro porque passou a noite acordado.  -Ele disse gargalhando. O ignorei e pulei sobre suas pernas e depois para o banco do motorista.

-Pode dormi se quiser.

O observei escorregar para o banco ao meu lado e se encolher no banco pequeno demais para seu tamanho. Liguei o carro e acelerei.
Horas depois eu já podia ver as construções decadentes da pequena cidade e fiquei agradecida. Meu estomago se contorcia dolorosamente e fazia barulhos altos, minha garganta ardia pela falta de água.

Estiquei o braço e sacudi o ombro de Bill.

-Chegamos!

Dirigi ate o centro da cidade. As ruas cobertas por corpos, um cemitério a céu aberto. Ignorei a vontade de vomitar. Bill permanecia imóvel ao meu lado, eu podia percebe que ele era sensível demais aquela cena. Mesmo que fizesse o máximo para me esconder essa fraqueza.

Parei ao lado de um pequeno mercado. Desci com a arma a postos nas minhas mão tremulas, ao meu lado Bill tinha o arco preparado e o rosto coberto pela mesma máscara de frieza que já me tornará familiar.

Em um pedaço de papelão na entrada do mercado se lia ''Pegue o que precisar. Que Deus o proteja...Se ele ainda se importa.'' Engoli em seco e entrei logo atrás de Bill.

-Pegue qualquer coisa que não precise ser cozinhada. Biscoitos, salgadinhos... O que encontrar. Fique por perto  e só atire se tiver certeza que eu não vou chegar a tempo. -Bill disse entrando em um dos corredores.

Entrei no corredor estreito a minha frente. Vari as prateleiras, mas tudo que encontrei foi uns poucos pacotinhos de biscoitos esfarelados e um pacote de batatinhas. Estava voltado para entrada onde esperaria por Bill quando ouvi um grito alto e agudo cheio de pânico.

-BILL!

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