Se eu soubesse que ia gostar de você assim, teria andado mais rapido, abaixado a cabeça e virado de lado…”
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-Hum... Você... Você ta bem? - Perguntei sem olhar em sua direção, mas senti seus olhos pararem em mim por um instante.
-Claro. Só to preocupado. Não acho que vamos consegui chegar na cidade antes de anoitecer e só tenho um pacote de biscoitos e meia garrafa de água.
Senti meu estômago ser jogado contra coluna como se eu tivesse levado um soco. Não por causa da falta de água e comida, mesmo que as palavras de Bill tenham feito minha boca ficar seca, mas por que não me parecia prudente passar a noite dentro de um carro no meio da estrada.
-E se algum deles... E se tiver zumbis por perto, Bill? -Minha voz saiu alta e rouca, o pânico estava explicito nela.
-Os vidros são escuros, vamos ficar quietos. Vou tentar estacionar atras de algumas árvores - Sua mão escorregou ate encontra a minha e a envolveu com força. - Na vai acontecer nada com você enquanto eu estiver por perto, Mel. Eu mal te conheço, mas você é tudo que eu tenho agora.
Abri a boca para falar, mas não consegui dizer uma palava. Estava surpresa demais e assustada. Assustada porque uma pequena parte infantil e humana de mim tinha reagido alegre demais com as palavras de Bill.
Ele estacionou o carro atrás de algumas árvores no canto da estrada, não era exatamente seguro. Escorreguei para o banco de trás e enrolei-me com o meu casaco enquanto Bill se certificava pela quarta vez que as portas estavam realmente travadas.
-Tudo certo. -Ele disse sentado-se ao meu lado e mexendo na sua mochila. -Toma. Dá um gole para você e um para mim, temos que deixar água para amanhã. Não tenho certeza se vai ter nessa cidade.
Peguei a garrafa com cuidado como se cada gota de água fosse preciosa demais para ser desperdiçada e dei um gole rápido em seguida ele fez o mesmo. Comemos metade do pacote de biscoitos esfarelados e esperamos o anoitecer.
Quando o crepúsculo caiu lá fora Bill parecia mais alerta que nunca. O arco colocado sobre as pernas, os olhos atentos e o rosto coberto por aquela mascará dura que o fazia parecer mais velho e mais feroz.
-Pode dormi se quiser. -Ele disse sem me olhar.
-Não. Não ia conseguir de qualquer forma. -O observei por alguns minutos. Pela primeira vez percebi que Bill sabia muito sobre mim eu ,ao contrário, sabia apenas seu nome e que tinha um irmão. -De onde você é? Obviamente não é americano, não com esse sotaque.
-Sou alemão.
-Fazia o que antes...? Você sabe. De mundo acabar.
-Vai me fazer uma entrevista agora? -Bill perguntou erguendo uma sobrancelha.
-Acho justo. Você sabe muito ao meu respeito. Além do mais para quem eu ia contar? -Contra-ataquei usando o mesmo argumento que ele.
-Tudo bem. Ai vai, eu era músico. Tinha uma banda onde eu era vocalista e , acredite ou não, nós eramos bons. Muito bons.
-E o arco?
-Roubei de uma casa na minha primeira noite sozinho. A gente aprende fazer coisas incríveis quando precisa, eu nem mesmo tinha visto um desses na minha vida antes.
Descansei a cabeça no vidro da janela ao meu lado. Não tinha mais vontade de falar e pela primeira vez me perguntei por que estava ali. Não ali no carro, mas ali lutando para viver. Afinal o que eu ainda tinha? Nada. Eu não tinha mais nada pelo que lutar. Lutar pela minha própria vida era pouco demais.
-Bill?
-Sim?
-Você já pensou em desistir? Quero dizer, acerta um dessas flechas no meio da cabeça e acabar com isso?
-Não! Claro que não! Meu irmão ta la fora, eu sinto, tenho que continuar por ele. Por que você ta perguntando isso? - Bill pegou o meu queixo tentado encontrar os meus olhos, mas abaixei a cabeça. -Você não ta pensando em...
-Você tem seu irmão. Tem um motivo. E eu? Que motivo eu tenho para continuar? Eu não tenho ninguém!
-Não seja mentirosa! Você tem a mim, eu sei que isso é egoísta, mas se não quer continuar por si mesma , continue por mim. Eu não quero ficar sozinho de novo.
Bill se aproximou devagar, o olhar preso ao meu. Respirei fundo tentando fazer o ar chegar mais rápido. Seus lábios tocaram de leve os meus, delicadamente como se eu fosse quebrar se seus lábios tocassem com mais força os meus.
-O que nós estamos fazendo? -sussurrei.
-Vivendo, Mel. Vivendo.
Deitei no banco e descansei a cabeça no seus colo e pela primeira vez em meses dormi de verdade.
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