quarta-feira, 6 de março de 2013

O ultimo dia- Capitulo 5




Se eu soubesse que ia gostar de você assim, teria andado mais rapido, abaixado a cabeça e virado de lado…
Soulstripper.

Bill tinha os olhos fixos na estrada, as mãos apertadas com força contra o volante. A quanto tempo estávamos na estrada?  Horas e ele não abrira a boca para falar nada desde que saímos do lago. Conhecia muito pouco Bill, mas sabia que isso não era dele.

-Hum... Você... Você ta bem? - Perguntei sem olhar em sua direção, mas senti seus olhos pararem em mim por um instante.

-Claro. Só to preocupado. Não acho que vamos consegui chegar na cidade antes de anoitecer e só tenho um pacote de biscoitos e meia garrafa de água.

Senti meu estômago ser jogado contra coluna como se eu tivesse levado um soco. Não por causa da falta de água e comida, mesmo que as palavras de Bill tenham feito minha boca ficar seca, mas por que não me parecia prudente passar a noite dentro de um carro no meio da estrada.

-E se algum deles... E se tiver zumbis por perto, Bill? -Minha voz saiu alta e rouca, o pânico estava explicito nela.

-Os vidros são escuros, vamos ficar quietos. Vou tentar estacionar atras de algumas árvores  - Sua mão escorregou ate encontra a minha e a envolveu com força. - Na vai acontecer nada com você enquanto eu estiver por perto, Mel. Eu mal te conheço, mas você é tudo que eu tenho agora.


Abri a boca para falar, mas não consegui dizer uma palava. Estava surpresa demais e assustada. Assustada porque uma pequena parte infantil e humana de mim tinha reagido alegre demais com as palavras de Bill.

Ele estacionou o carro atrás de algumas árvores no canto da estrada, não era exatamente seguro. Escorreguei para o banco de trás e enrolei-me com o meu casaco enquanto Bill se certificava pela quarta vez que as portas estavam realmente travadas.

-Tudo certo. -Ele disse sentado-se ao meu lado e mexendo na sua mochila. -Toma. Dá um gole para você e um para mim, temos que deixar água para amanhã. Não tenho certeza se vai ter nessa cidade.

Peguei a garrafa com cuidado como se cada gota de água fosse preciosa demais para ser desperdiçada e dei um gole rápido em seguida ele fez o mesmo. Comemos metade do pacote de biscoitos esfarelados e esperamos o anoitecer. 

Quando o crepúsculo caiu lá fora Bill parecia mais alerta que nunca. O arco colocado sobre as pernas, os olhos atentos e o rosto coberto por aquela mascará dura que o fazia parecer mais velho e mais feroz.


-Pode dormi se quiser. -Ele disse sem me olhar.


-Não. Não ia conseguir de qualquer forma. -O observei por alguns minutos. Pela primeira vez percebi que Bill sabia muito sobre mim eu ,ao contrário, sabia apenas seu nome e que tinha um irmão. -De onde você é? Obviamente não é americano, não com esse sotaque.

-Sou alemão.

-Fazia o que antes...? Você sabe. De mundo acabar.

-Vai me fazer uma entrevista agora? -Bill perguntou erguendo uma sobrancelha.

-Acho justo. Você sabe muito ao meu respeito. Além do mais para quem eu ia contar? -Contra-ataquei usando o mesmo argumento que ele. 

-Tudo bem. Ai vai, eu era músico. Tinha uma banda onde eu era vocalista e , acredite ou não, nós eramos bons. Muito bons.

-E o arco?

-Roubei de uma casa na minha primeira noite sozinho. A gente aprende fazer coisas incríveis quando precisa, eu nem mesmo tinha visto um desses na minha vida antes.

Descansei a cabeça no vidro da janela ao meu lado. Não tinha mais vontade de falar e pela primeira vez me perguntei por que estava ali. Não ali no carro, mas ali lutando para viver. Afinal o que eu ainda tinha? Nada. Eu não tinha mais nada pelo que lutar.  Lutar pela minha própria vida era pouco demais.

-Bill?

-Sim?

-Você já pensou em desistir? Quero dizer, acerta um dessas flechas no meio da cabeça e acabar com isso?

-Não! Claro que não! Meu irmão ta la fora, eu sinto, tenho que continuar por ele. Por que você ta perguntando isso? - Bill pegou o meu queixo tentado encontrar os meus olhos, mas abaixei a cabeça. -Você não ta pensando em...

-Você tem seu irmão. Tem um motivo. E eu? Que motivo eu tenho para continuar? Eu não tenho ninguém!

-Não seja mentirosa! Você tem a mim, eu sei que isso é egoísta, mas se não quer continuar por si mesma , continue por mim. Eu não quero ficar sozinho de novo.

Bill se aproximou devagar, o olhar preso ao meu. Respirei fundo tentando fazer o ar chegar mais rápido. Seus lábios tocaram de leve os meus, delicadamente como se eu fosse quebrar se seus lábios tocassem com mais força os meus.

-O que nós estamos fazendo? -sussurrei.

-Vivendo, Mel. Vivendo.

Deitei no banco e descansei a cabeça no seus colo e pela primeira vez em meses dormi de verdade.

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