“Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada.”
— | Tati Bernardi |
Bill parou a moto no jardim da frente da minha casa. O rosto da tal irmã dele ainda passava pela minha mente, simplesmente não conseguia acreditar que fossem parentes.
-Como ela se chama? -Perguntei enquanto caminhávamos em direção à porta de entrada. Mais uma vez a expressão de Bill se tornou seria, isso acontecia todas as vezes que eu perguntava de sua vida.
-Francesca. Podemos esquecer isso agora?
Ele parou de súbito quanto à porta se abriu e minha vó saiu vestida em um roupão rosa berrante. Sua expressão era severa e ficou ainda pior quando pousou o olhar em Bill.
-Anette.
-Bill. O que faz aqui? –Eu quase podia ver faíscas voarem pelo ar quando os olhares dos dois se encontraram.
-Tinha negócios a resolver... Bem isso não importa mais. Ângela está entregue. –Bill desviou o olhar da minha vó e curvou-se em minha direção, selou nossos lábios em um beijo rápido, colocou o capacete e segundos depois sumiu ao virar uma esquina.
Caminhei apressada pela casa e entrei no meu quarto, despi a camisola e coloquei uma calça jeans e uma camiseta, estava atrasada para a escola. Mas o real motivo de toda minha pressa era não querer conversar com a minha avó sobre Bill, mesmo estando corroída pela curiosidade de saber de onde os dois se conheciam.
Desci correndo as escadas enquanto arrumava em um rabo de cavalo meus cabelos. Ela me esperava no final da escada, era impossível escapar da minha avó quando ela queria dizer ou talvez perguntas alguma coisa.
-O que faz com aquele garoto?
-Ele é meu...Namorado ,talvez. –Eu mesma não sabia em que patamar se encaixava minha relação com Bill. Amizade, não. Sexo casual, muito mesmo. Namoro, talvez. –E você, de onde o conhece?
Sua expressão ficou dura e seria ela passou as mãos pelos cabelos grisalhos enquanto caminhava de um lado para o outro.
-Não importa. Apenas saiba que Bill não te fará bem e se sente algum carinho ou respeito por mim fique longe dele.
-Sinto muito, mas isso eu não posso fazer. Eu o amo.
Caminhava solitária pelas ruas vazia da cidade. O dia estava claro, milagrosamente o Sol não estava coberto por uma espessa camada de nuvens negras e tempestuosas.
Bill freio a moto a alguns centímetros de distancia de mim, me esticou a mão com o capacete e fez sinal para que eu subisse.
-Eu tenho escola sabia? –Disse sorrindo quando paramos na frente da velha cabana.
-Não perderá o ano por causa de uma falta.
-Você mora aqui? –Perguntei olhando o lugar decadente.
-Não...-Bill deu um sorriso tímido antes de continuar. –Venho aqui quando quero ficar sozinho. Tenho um amigo que é padre na capela da cidade, vivo na casa nos fundos da tal capela.
-Você não parece religioso. –Disse sorriso e o abraçando.
-É.
Ele se aproximava para me beijar, mas fomos interrompidos pelo barulho das vidraças das janelas quebrando-se e a antiga porta de madeira vindo ao chão.
-Fique atrás de mim. –Bill disse quando um homem alto de cabelos longos e claros entrou. Sua expressão era seria e quando seu olhar encontrou o meu senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Envolvi a cintura de Bill por trás.
-Olá, Bill. Vejo que fez... amigos ,pena que suas companhias não sejam tão boas.
-O quer aqui, Miguel? –Lembrei-me naquele momento do que Francesca tinha dito na manhã passada: Miguel virá te visitar.
-Você sabe o que quero.
-Eu não posso. Não é do jeito que eu pensava, ela é boa.
-Claro. Agora me diga, não sente nojo ao tocar e beijar uma coisa como essa? –Miguel perguntou enquanto apontava para mim. –Ela sebe o que você é?
-Não.
-MOSTRE, AGORA!
-Não posso.
-MOSTRE!
Bill se afastou de mim e caminhou ate o centro da sala, uma luz forte o envolveu e quando finalmente pude abrir os olhos me choquei com o que via. Longas asas negras saiam majestosamente das costas de Bill, deviam ter pelo menos o dobro de sua altura e me fizeram estremecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário