terça-feira, 26 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 10


Porque amor é justamente isso, é ficar inseguro, é ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle.
Fabrício Carpinejar.


Estávamos a poucos quilômetros de Chicago, 5 talvez, Bill dormia no banco ao meu lado, a foto da garota morta entre os dedos. Chequei o ponteiro que marcava o nível de gasolina pela décima vez em  menos de meia hora, não teríamos o suficiente para chegar a cidade. Olhei ao redor, nenhum carro por perto ou casa, nada além de asfalto e árvores por quilômetros.

Bill se mexeu ao meu lado. Ele estava calado desde que deixamos Giovanni, o conhecia o bastante para saber que aquilo significava apenas o quanto ele estava chocado. Não tinha sequer notado que Bill tinha pegado a foto da garota ate ele pedir para eu dirigir e escorregar para o banco do carona. Tinha perdido a noção de quanto tempo Bill tinha ficado olhando aquela foto ate dormi.

-Estamos chegando. –Sussurrei quando ele se arrumou no banco.

-Acha que temos gasolina o suficiente para entrar na cidade?

-Duvido.

O silêncio tomou conta do carro novamente, sombrio e pesado.  Era quebrado apenas pelo barulho do motor ou vez ou outra pelo suspiro de um de nós dois.

O crepúsculo começava a cair quando o carro parou, já podíamos ver alguns prédios, a distância poderia facilmente ser vencida a pé, mas o que me preocupava era o que nos esperava.

-Nós podemos passar a noite no carro... –Comecei sem convicção.

-Pode ter alguns deles por aqui.

-Sim, mas lá com certeza tem. Sair desse carro é suicídio, Bill.

-Não me importa. Pode ficar se quiser, eu vou sair.

Pisquei algumas vezes, não podia acreditar no que tinha ouvido. Ele estava decidido e pouco se importava se eu iria junto ou não. Agora eu era descartável? Talvez.

-E seu irmão? Pense nele! Se você sair e for mordido?
-Eu nem tenho certeza se ele esta vivo. Eu não tenho mais certeza de nada. E se todas as pessoas que se importavam comigo, assim como essa garota, estiverem mortas?

-Eu não estou. –Sussurrei.

-É. Mas por quanto tempo, Mel? Eu não aguento mais e pouco me importo se um daqueles monstros nojentos me pegarem.

Permaneci parada o observando juntar suas coisas e sair do carro. Não que eu não quisesse segui-lo, apenas não conseguia me mexer. Quando finalmente consegui fazer meu corpo responder, peguei a mochila e comecei a correr atrás de Bill.

-ENTÃO É ASSIM? DISSE-ME  PARA LUTAR POR VOCÊ E AGORA VAI EMBORA? DISSE PARA SUPORTA TUDO PARA NÃO TE DEIXAR SÓ E EU O FIZ, AGORA FAÇA O MESMO POR MIM! –Ele continuava a andar como se não ouvisse meus gritos. – NÃO CONSIGO ACREDITAR QUE SEJA TÃO EGOÍSTA!

-pois eu sou! –Bill disse virando-se e agarrando meu braço com força. –Nunca prometi nada. Eu não sou forte, não sou bom e talvez seu maior erro tenha sido me ouvir.

-Isso é uma pena, porque agora eu simplesmente não posso mais virar as costas e te deixar seguir sozinho.

Sua mão escorregou pelo meu braço ate alcançar a minha.

-Você é uma idiota por isso.

Tudo que consegui fazer foi sorri. Só naquele momento percebi o quão dependente de Bill eu tinha me tornado, a ponto de arriscar minha própria vida para não ficar sem ele.

-Qual o plano? –Perguntei quando entramos na cidade.

-Quem disse que eu tenho um plano?


 As ruas eram escuras, os zumbis se arrastavam de um lado para o outro a procura de comida. Inconscientemente prendi a respiração como se só isso pudesse chamar a atenção deles para a nossa presença.

-Acho que o plano por enquanto é não virar comida. –Bill disse me puxando para perto da parede do prédio mais próximo.  


sexta-feira, 22 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 9




Uma vez Augusto Curry disse: Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida.
One Tree Hill

Eu estava correndo. Correndo sem uma direção aparente, desesperada, sozinha... Eu não sabia o que estava atrás, tinha medo demais para parar e olhar, porque sabia que aquilo seria a ultima coisa que veria. Mas alguns  metros e eu estava no chão enquanto quem ou o que me perseguia se aproximava tornando tudo a minha volta gelado e assustador.

Acordei sobre saltada, o rosto coberto por uma camada de suor. Tateei sobre a cama procurando a lanterna, mas tudo que encontrei foi a lata de sardinha vazia que tinha sido nosso jantar.  
Apertei os olhos tentando ver melhor o quarto. A luz que vinha da lua produziu uma sombra alta contra a parede. Um homem.

-Bill? –Sussurrei. –O que está fazendo de pé?

- O que? –Ele perguntou ao meu lado. Meu coração deu pulo no peito e o ar me faltou quando a adrenalina foi despejada no meu sangue. – Mel? O que foi?

Senti a mão de Bill tocar o meu ombro. Abri a boca para falar, mas nada saiu. Estiquei o braço tremulo e apontei para a sombra a nossa frente.

-Quem está ai? – Bill perguntou para a escuridão.
Um clarão forte encontrou meu rosto me cegando por alguns segundos. Um homem segurava uma lanterna em uma das mãos e uma arma na outra. A minha arma.
Não parecia ter menos de 60 anos, cabelos e barba brancos. Uma expressão ameaçadora sobre todas aquelas rugas.

Durante todo aquele tempo eu tinha aprendido apenas uma coisa: O extinto de sobrevivência e o ódio humano eram mais destrutivos e perigosos que qualquer zumbi.

-Quem são vocês e o que estão fazendo na minha casa?  

-Eu sou Bill e ela é Melinda. –Bill começou a dizer levantando-se com os braços erguidos. –Não sabíamos que tinha alguém aqui. Desculpe.

-Hum. Foram vocês que chamaram a atenção dos zumbis para o mercado?

-Sim. –Sussurrei. –Fui eu.

-Eu devia estourar os miolos de você por isso. Agora nem posso chegar perto para buscar mantimentos. O lugar está infestado.

-Não tivemos a intenção. Fui atacado e ela não tinha outra opção.

O velho nos observou por alguns minutos antes de abaixar a arma.

-Como disse que se chama mesmo?

-Bill.

Ele nos deu as costas e começou a revirar uma das gavetas de uma velha cômoda ao seu lado.

-Bill Kaulitz?

-Sim.

-Eu sabia! Ela ia ficar tão feliz...

-Ela quem?-Perguntei.

-Minha neta.  Ela era uma fã desse rapaz. – O senhor esticou a mão com uma fotografia amaçada e manchada nela. Uma garota loira sorria para câmera, nos braços um pôster com a foto de quatro rapazes. Um deles era Bill, mais joven , mas sem duvidas era ele.

Levantei o olhar para vê-lo. A cor tinha sumido de seu rosto, os olhos estavam vidrados no rosto da garota.

-Onde ela está?

-Morta.

A foto tremeu nas mãos de Bill. Uma única lágrima escorreu no seu rosto, mas ele a limpou depressa.

-Meu nome é Giovanni. – O velho disse pegando a foto.

-Morta. –Bill repetiu em voz baixa.
Giovanni era um imigrante italiano. O único sobrevivente da sua família. Escolhera ficar na casa que morou durante anos com sua esposa. E graças a  nós não tinhas mais como continuar ali.

-Pode vim conosco se quiser. – Eu disse quando o Sol começou a surgir no horizonte. – Quer dizer, foi culpa nossa o que aconteceu e...

-Eu agradeço, mas não. De qualquer forma esse seria meu ultimo dia. Podem pegar a água que encontraram e tem comida na segunda gaveta da cômoda.

Bill abriu a boca, mas antes de dizer qualquer coisa a compreensão espalhou-se pelo seu rosto. Desistir. Era isso afinal o que as pessoas faziam. Giovanni não tinha mais pelo que lutar, assim como eu não tinha ate uns dias trás. E assim como eu ele achava que a morte era o melhor fim para aquele pesadelo. Não havia dor após esta morto, nem saudade, nem medo.

Colocamos as garrafas com água no porta-malas. Da soleira da porta o senhor nos  deu adeus com um sorriso no rosto. Tínhamos acabado de ligar o motor quando a porta se fechou e ouvimos o tiro, um só e depois mais nada apenas o fim.



segunda-feira, 18 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 8



Você é um idiota. Você me tem nas mãos. Você me ganha com um piscar de olhos. E pior, você sabe disso. Acho que é por isso que eu fujo, fujo, mas sempre volto pra você.
Giulia Mainardi.

Abracei os joelhos e fechei os olhos. Estava tão cansada... Abri a boca para falar, mas desisti ao lembrar a dor que isso causava pela falta de água.
Bill permanecia quieto ao meu lado, hora ou outra seu estomago fazia um barulho baixo, mas ele o ignorava.

Tínhamos deixado os zumbis para trás a alguns metros e começávamos a entrar no subúrbio da pequena cidade. Casas pichadas e decadentes se erguiam de todos os lados, o silêncio predominava rompido apenas pelo barulho do motor que já dava sinais de fraqueza.

-Preciso parar. Tenho que colocar gasolina. –Bill disse com a voz rouca. Seu rosto era uma máscara, mas eu podia ver o medo, a angústia, a tristeza e a raiva escondidas atrás daqueles mares castanhos.

-Bill? –Minha garganta latejou, mas continuei. –Me desculpe. Se eu tivesse sido mais esperta e usado outra coisa que não a arma teríamos água agora e poderíamos ir encontrar seu irmão.

-Não peça desculpas. Eu to vivo, não é? Está vivo é uma coisa importante.

Continuei parada olhando para frente quando ele desceu do carro e deu a volta ate o porta malas.

-E então, acha que pode ter água em alguma dessas casas? –Bill perguntou se  debruçando na janela ao meu lado.

-Talvez.

Abri a porta e desci. O ar era mais limpo por ali, mas vez ou outra se podia ver um corpo jogado em algum lugar escuro. Entramos na casa mais próxima, era pequena, simples, as paredes recobertas de um papel bege desbotado, uma pequena escada que dava ate o segundo andar, as janelas lacradas.

-Quem morou aqui sabia o que estava fazendo. –Bill disse erguendo uma das sobrancelhas.

Caminhei a te a cozinha, a arma apostos, e vasculhei um por um dos armários da cozinha. Não me dei ao trabalho de checar as torneiras, semanas antes de tudo esta completamente acabado o abastecimento de água já avia sido cortado.

-Nada?

-Só essas garrafas de cloro. –O rosto de Bill parecia ter se iluminado ao ouvir essas palavras.

-Cheire. Quando meu irmão e eu começamos a fugir guardávamos água em garrafas velhas de cloro. Conserva bem.

Abri uma das garrafas no compartimento de baixo de uma pia pequena e funguei sobre o gargalo. O cheiro não era tão forte quanto deveria ser.

-Agua! –Minha voz saiu esganiçada e minha boca salivava. Dei um gole longo, a água parecia queimar as rachaduras no fundo da minha garganta, mas mesmo assim era bom.
Entreguei-a em seguida para Bill e caminhei ate as escadas.

-Acha que podemos passar essa noite aqui? –Perguntei enquanto subia. –Quer dizer, parece segura e nós dois estamos muito cansados. Somo presas fácies assim.

-Hum. É, acho que sim.

A escada dava em um corredor pequeno de paredes azul claro. Duas portas apenas, uma do quarto e outra do banheiro. Entrei na primeira porta e me joguei sobre a cama de casal. Sensação maravilhosa sentir um coxão macio e um travesseiro.

Bill estava parado na soleira da porta, um meio sorriso nos lábios.

-Eu posso dormi com você hoje ou vou ter que dormi no chão outra vez?

Parei um segundo, não esperava ouvir aqui, talvez por que não estivesse preparada para responder. Suspirei fundo.

-Pode dormi comigo hoje. Mas se comporte.

-Eu sempre me comporto.

Bill caminhou ate mim e pegou minha mão, levantei-me e fiquei de frente para ele. Ele me empurrou ate o móvel ao lado da cama e me fez sentar, seu rosto estava perto do meu, sua mão fazia linhas retas na minha bochecha direita enquanto a outra apertava meu quadril. Seus lábios bocaram os meus rápido e em seguida desceram pelo meu pescoço, ombro... Suspirei entre dentes e agarrei seus cabelos.

-Calma! –Bill disse sorrindo, as mãos ainda nas minhas coxas. – Controle de natalidade. Não pensei em passar o fim do mundo com alguém.

-Então não me provoque, Kaulitz.

Desci do móvel e me joguei novamente sobre a cama. Ele deitou-se atrás de mim me abraçando por trás.

-É mais forte do que eu. –Não precisava virar para saber que tinha um sorriso escancarado e convidativo no rosto de Bill.  




sexta-feira, 15 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 7



Parecia que meu coração estava sendo torcido como um nó. Eu queria correr até ela, mas não conseguia me mover.
Percy Jackson


Observei os quatro longos corredores do mercado. Mais dois gritos e tudo o que eu conseguia ouvir era minha pulsação acelerada, larguei os pacotes no chão e segurei a arma nas mãos tremulas.

Tentei seguir os gritos. Entrei no segundo corredor e me espremi contra prateleira, os gritos de Bill estavam mais perto e meu coração dava um baque dolorido cada vez que os ouvia. E se fosse tarde demais? Se ele já tivesse sido mordido? Eu teria coragem de atirar em Bill? Nunca. Eu ficaria ali com ele.

Prendi a respiração quando vi a alguns metros de mim ele jogado no chão. O morto-vivo tentava se debruçar sobre ele, Bill o afastava com os pés e se debatia fevozmente. A alguns metros seu arco estava jogado. Prendi a respiração

É só mirar e atirar, uma voz sussurrou no fundo da minha mente. Não era tão fácil. Ergui a arma e mirei, apertei o gatilho. Silêncio. Não aquele silêncio comum, aquele silêncio pesado que poluí o ar depois de uma briga.

Bill continuou a olhar o corpo caído ao seus pés antes de levantar e se encolher contra uma das prateleira, alguns enlatado caíram sobre ele, mas Bill não pareceu perceber. Sentei-me ao seu lado e abracei seu tronco.

-Ele te mordeu? -Perguntei mordendo o lábio para evitar que as lágrimas rolassem. Bill negou com a cabeça. Seu rosto estava pálido e os olhos vidrados.

-E-eu nunca cheguei tão perto de morrer... -Gaguejou retribuindo meu abraço.

-Acha que ouviram o tiro? -Minha voz saiu esganiçada e cheia de pânico.

-Talvez... É melhor não arriscar, vamos pegar algumas coisas rápido e sair daqui. Tem gasolina no porta-malas eu abasteço quando sairmos da rua principal.

Bill levantou-se cambaleante, seu corpo todo parecia vibrar. O puxei de volta.

-Eu tive tando medo de te perde. - Sussurrei antes de tocar levemente seus lábios. Era um beijo calmo, sem pressa, cheio de alivio.

-Não vai se livrar de mim tão fácil. -Bill disse sorrindo e segurando meu rosto entre as mãos. -Mas se alguma coisa  acontecer comigo... Prometa que vai atirar em mim e procurar o meu irmão.

-Eu não....

-Eu vi que você ia ficar comigo aqui se eu tivesse sido mordido e isso não pode acontecer! Eu não quero se uma daquelas coisas lá fora  e meu irmão precisa saber que eu o procurei enquanto pude e que precisa cuidar de você.

Abri a boca para falar, mas desisti. Era inútil, ele nunca me ouviria.

Limpei o suor do rosto com as costas da mão e comecei a recolher algumas das latas jogadas no chão sem saber ao certo o que estava pegando. Bill caminhou ate a entrada com o arco a postos.

-Vem, Mel! Alguns estão de pé!

Corremos ate a saída dos fundos e demos a volta ate o carro. Alguns dos zumbis caminhavam cambaleantes em nossa direção. Mal tive tempo de entrar antes de Bill dá a partida.


-Agora é sem parada. Direto para Chicago.


-Continuamos sem água. -Minha voz saiu monótona uma vez que aquilo já me parecia corriqueiro.

Ao meu lado Bill deu um suspiro longo e desanimado.

-Então é torce para aqueles  caras simpáticos paparem de nos perseguir e termos gasolina o suficiente para chegar em um lugar seguro e com água.   


domingo, 10 de março de 2013

O ultimo dia -Capitulo 6



Definitivamente, viver não é fácil. Como somos frágeis, meu Deus. E como as coisas mudam rápido. Não dá tempo para pensar, para juntar o que restou. Voltar atrás é impossível. Ah, essas impossibilidades da vida. Elas nos pregam peças e fazem lágrimas descerem pelo rosto afora.
Clarissa Corrêa


Eu gosto da inconsciência, quando durmo tudo e seguro de novo. Sou só eu e eu mesma, sem medo, sem dor, e naquela noite, sem sonhos dolorosos.
Por isso quando o Sol atravessou o vidro do carro e tocou o meu rosto me esforcei ao máximo para continuar dormindo. Dei um suspiro baixo e frustado quando percebi que era inútil e ouvi uma risada rouca centímetros acima da minha cabeça.

-Bom dia?- Bill disse quando abri os olhos. Ele se curvou sobre mim e aproximou seu rosto do meu, levante-me depressa .

-Sobre ontem...

Outro sorriso e outro pulo doloroso do meu coração. Eu precisa de Bill, não só pela questão da sobrevivência, eu dava valor a sua amizade, mas apenas a sua amizade. Não é?

- Eu disse que não ia tentar nada, Mel. Nada que eu ache que você não queira pelo menos.  -Ele disse me lançando um meio sorriso de deboche.

Me encolhi novamente contra a janela do carro, permanecemos em silêncio por alguns minutos. O silencio nunca me incomodou, pelo contrario, sempre me pareceu muito agradável, mas ao lado de Bill ele era perturbador. Era como uma nuvem tóxica contaminando o ambiente.

Seus olhos eram quase negro, profundos. Absorviam tudo ao seu redor e não devolviam  nada, isso me deixa perturbada. Mais perturbada ainda porque eu sempre parecia me perde naqueles olhos.

-Tudo bem. Acho que é melhor pegarmos a estrada agora. -Bill disse depois de um momento. Respirei fundo tentando lembrar como se fazia para pensar logicamente novamente.

-Eu dirijo. Você passou a noite acordado.

-Não seria irônico? O mundo acabando e Bill Kaulitz sofrendo um acidente de carro porque passou a noite acordado.  -Ele disse gargalhando. O ignorei e pulei sobre suas pernas e depois para o banco do motorista.

-Pode dormi se quiser.

O observei escorregar para o banco ao meu lado e se encolher no banco pequeno demais para seu tamanho. Liguei o carro e acelerei.
Horas depois eu já podia ver as construções decadentes da pequena cidade e fiquei agradecida. Meu estomago se contorcia dolorosamente e fazia barulhos altos, minha garganta ardia pela falta de água.

Estiquei o braço e sacudi o ombro de Bill.

-Chegamos!

Dirigi ate o centro da cidade. As ruas cobertas por corpos, um cemitério a céu aberto. Ignorei a vontade de vomitar. Bill permanecia imóvel ao meu lado, eu podia percebe que ele era sensível demais aquela cena. Mesmo que fizesse o máximo para me esconder essa fraqueza.

Parei ao lado de um pequeno mercado. Desci com a arma a postos nas minhas mão tremulas, ao meu lado Bill tinha o arco preparado e o rosto coberto pela mesma máscara de frieza que já me tornará familiar.

Em um pedaço de papelão na entrada do mercado se lia ''Pegue o que precisar. Que Deus o proteja...Se ele ainda se importa.'' Engoli em seco e entrei logo atrás de Bill.

-Pegue qualquer coisa que não precise ser cozinhada. Biscoitos, salgadinhos... O que encontrar. Fique por perto  e só atire se tiver certeza que eu não vou chegar a tempo. -Bill disse entrando em um dos corredores.

Entrei no corredor estreito a minha frente. Vari as prateleiras, mas tudo que encontrei foi uns poucos pacotinhos de biscoitos esfarelados e um pacote de batatinhas. Estava voltado para entrada onde esperaria por Bill quando ouvi um grito alto e agudo cheio de pânico.

-BILL!

quarta-feira, 6 de março de 2013

O ultimo dia- Capitulo 5




Se eu soubesse que ia gostar de você assim, teria andado mais rapido, abaixado a cabeça e virado de lado…
Soulstripper.

Bill tinha os olhos fixos na estrada, as mãos apertadas com força contra o volante. A quanto tempo estávamos na estrada?  Horas e ele não abrira a boca para falar nada desde que saímos do lago. Conhecia muito pouco Bill, mas sabia que isso não era dele.

-Hum... Você... Você ta bem? - Perguntei sem olhar em sua direção, mas senti seus olhos pararem em mim por um instante.

-Claro. Só to preocupado. Não acho que vamos consegui chegar na cidade antes de anoitecer e só tenho um pacote de biscoitos e meia garrafa de água.

Senti meu estômago ser jogado contra coluna como se eu tivesse levado um soco. Não por causa da falta de água e comida, mesmo que as palavras de Bill tenham feito minha boca ficar seca, mas por que não me parecia prudente passar a noite dentro de um carro no meio da estrada.

-E se algum deles... E se tiver zumbis por perto, Bill? -Minha voz saiu alta e rouca, o pânico estava explicito nela.

-Os vidros são escuros, vamos ficar quietos. Vou tentar estacionar atras de algumas árvores  - Sua mão escorregou ate encontra a minha e a envolveu com força. - Na vai acontecer nada com você enquanto eu estiver por perto, Mel. Eu mal te conheço, mas você é tudo que eu tenho agora.


Abri a boca para falar, mas não consegui dizer uma palava. Estava surpresa demais e assustada. Assustada porque uma pequena parte infantil e humana de mim tinha reagido alegre demais com as palavras de Bill.

Ele estacionou o carro atrás de algumas árvores no canto da estrada, não era exatamente seguro. Escorreguei para o banco de trás e enrolei-me com o meu casaco enquanto Bill se certificava pela quarta vez que as portas estavam realmente travadas.

-Tudo certo. -Ele disse sentado-se ao meu lado e mexendo na sua mochila. -Toma. Dá um gole para você e um para mim, temos que deixar água para amanhã. Não tenho certeza se vai ter nessa cidade.

Peguei a garrafa com cuidado como se cada gota de água fosse preciosa demais para ser desperdiçada e dei um gole rápido em seguida ele fez o mesmo. Comemos metade do pacote de biscoitos esfarelados e esperamos o anoitecer. 

Quando o crepúsculo caiu lá fora Bill parecia mais alerta que nunca. O arco colocado sobre as pernas, os olhos atentos e o rosto coberto por aquela mascará dura que o fazia parecer mais velho e mais feroz.


-Pode dormi se quiser. -Ele disse sem me olhar.


-Não. Não ia conseguir de qualquer forma. -O observei por alguns minutos. Pela primeira vez percebi que Bill sabia muito sobre mim eu ,ao contrário, sabia apenas seu nome e que tinha um irmão. -De onde você é? Obviamente não é americano, não com esse sotaque.

-Sou alemão.

-Fazia o que antes...? Você sabe. De mundo acabar.

-Vai me fazer uma entrevista agora? -Bill perguntou erguendo uma sobrancelha.

-Acho justo. Você sabe muito ao meu respeito. Além do mais para quem eu ia contar? -Contra-ataquei usando o mesmo argumento que ele. 

-Tudo bem. Ai vai, eu era músico. Tinha uma banda onde eu era vocalista e , acredite ou não, nós eramos bons. Muito bons.

-E o arco?

-Roubei de uma casa na minha primeira noite sozinho. A gente aprende fazer coisas incríveis quando precisa, eu nem mesmo tinha visto um desses na minha vida antes.

Descansei a cabeça no vidro da janela ao meu lado. Não tinha mais vontade de falar e pela primeira vez me perguntei por que estava ali. Não ali no carro, mas ali lutando para viver. Afinal o que eu ainda tinha? Nada. Eu não tinha mais nada pelo que lutar.  Lutar pela minha própria vida era pouco demais.

-Bill?

-Sim?

-Você já pensou em desistir? Quero dizer, acerta um dessas flechas no meio da cabeça e acabar com isso?

-Não! Claro que não! Meu irmão ta la fora, eu sinto, tenho que continuar por ele. Por que você ta perguntando isso? - Bill pegou o meu queixo tentado encontrar os meus olhos, mas abaixei a cabeça. -Você não ta pensando em...

-Você tem seu irmão. Tem um motivo. E eu? Que motivo eu tenho para continuar? Eu não tenho ninguém!

-Não seja mentirosa! Você tem a mim, eu sei que isso é egoísta, mas se não quer continuar por si mesma , continue por mim. Eu não quero ficar sozinho de novo.

Bill se aproximou devagar, o olhar preso ao meu. Respirei fundo tentando fazer o ar chegar mais rápido. Seus lábios tocaram de leve os meus, delicadamente como se eu fosse quebrar se seus lábios tocassem com mais força os meus.

-O que nós estamos fazendo? -sussurrei.

-Vivendo, Mel. Vivendo.

Deitei no banco e descansei a cabeça no seus colo e pela primeira vez em meses dormi de verdade.