E pra não perder a sanidade penso em você
Juntos correremos pra algum lugar novo
E nada pode me separar de você
Através da tempestade -Monsoon
Bill parou a moto ha alguns metros da minha casa. Caminhei
de vagar em direção à porta de entrada, mal sabia como ainda conseguia
caminhar, estava fora de mim, como se não pertencesse a aquele mundo ou como se
aquele não fosse o meu corpo.
-Ângela! –Ele correu em minha direção antes que eu
alcançasse a porta. – Você sabe que temos de ir embora não sabe? –Assenti com
um movimento de cabeça. –Desculpe por tudo isso. –Bill puxou meus pulsos e
envolveu meus braços em sua cintura, apenas fiquei lá parada como uma boneca de
pano. Depois de um instante ele me soltou e se afastou.
Puxei as chaves do bolço e destranquei a porta, caminhei sem
fazer barulho ate o meu quarto e comecei a socar minhas coisas dentro de uma
mala suficientemente grande. Sentia-me
mal por partir sem me despedir da minha vó, mas sabia que não conseguiria olhar
nos olhos dela e mentir. Tentei interpretar tudo aquilo como uma forma de
proteger sua vida e a minha, quando Bill achasse que era seguro nós
voltaríamos, ou pelo menos eu esperava que fosse assim.
Peguei uma folha de papel amaçada e rabisquei algumas
palavras nela:
Vovó,
Estou bem,
decidi que está na hora de passar algum tempo com os meus avôs no Brasil. Mando
noticias assim que puder.
Te amo ...
Dobrei o bilhete e o joguei em cima da cama, não esperava que ela
acreditasse naquilo, mas não tinha como ter certeza que era mentira uma vez que
não falava português. Meu avô que costumava se comunicar com o resto da
família.
Caminhei arrastando a mala ate a entrada da pequena capela na
pracinha da cidade. Bill disse que estaria lá arrumando suas coisas. Bati duas
vezes nas grandes portas de madeira antiga e um rapaz loiro saiu para me
atender. Pelas roupas presumi que seria o tal padre amigo de Bill.
-Eu vim...
-Sei o que veio fazer. Bill está quase pronto. –Ele se afastou e
fez sinal para que eu entrasse. –Pode esperar aqui dentro se quiser.
-Não, obrigada. Prefiro ficar aqui fora.
Nunca tinha gostado de igrejas, me sentia mal perto delas e agora
começava a entender o porquê .
Alguns minutos depois Bill apareceu carregando uma mochila e nada
mais.
-Esta pronta? –Ele perguntou enquanto caminhávamos em direção à
moto.
-Acho que sim... Você sabe o quanto isso é difícil pra mim.
-É só por um tempo. Agora que Miguel esteve aqui e percebeu que eu
não vou lhe matar ele vai mandar alguém que faça isso, então é melhor não arriscar.
-Por que ele mesmo na me matou hoje quando teve oportunidade?
-Ele não é do tipo que suja as mãos, se acha superior demais para
isso. Por isso manda anjos como eu.
Sem perceber deixei que algumas lágrimas rolassem pelo meu rosto.
Se no dia anterior alguém me disse que eu passaria pelo o que estava passando
naquele momento eu provavelmente riria na cara da pessoa e perguntaria que tipo
de droga ela tinha usado. Agora, no entanto, tudo aquilo que eu considerava uma
historia absurda estava sendo jogada na minha cara como se fossem tijolos.
-Para onde vamos? –Perguntei quando paramos na frente da rodoviária
da cidade.
-Por enquanto vamos para Berlim, quando chegarmos lá eu descido
onde será o próximo lugar. De qualquer forma podemos passar a vida fugindo que
ainda não encontraremos um lugar suficientemente seguro. –Ele respondeu
enquanto pegava um carrinho e jogava minha mala em cima.
-Obrigada, isso é muito reconfortante. –Disse forçando um sorriso
que saiu mais parecido com uma careta de dor.
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