sábado, 1 de setembro de 2012

Na sua sombra eu posso brilhar -Capitulo 14


E pra não perder a sanidade penso em você
Juntos correremos pra algum lugar novo
E nada pode me separar de você
Através da tempestade -Monsoon 


Bill parou a moto ha alguns metros da minha casa. Caminhei de vagar em direção à porta de entrada, mal sabia como ainda conseguia caminhar, estava fora de mim, como se não pertencesse a aquele mundo ou como se aquele não fosse o meu corpo.

-Ângela! –Ele correu em minha direção antes que eu alcançasse a porta. – Você sabe que temos de ir embora não sabe? –Assenti com um movimento de cabeça. –Desculpe por tudo isso. –Bill puxou meus pulsos e envolveu meus braços em sua cintura, apenas fiquei lá parada como uma boneca de pano. Depois de um instante ele me soltou e se afastou.
Puxei as chaves do bolço e destranquei a porta, caminhei sem fazer barulho ate o meu quarto e comecei a socar minhas coisas dentro de uma mala suficientemente grande.  Sentia-me mal por partir sem me despedir da minha vó, mas sabia que não conseguiria olhar nos olhos dela e mentir. Tentei interpretar tudo aquilo como uma forma de proteger sua vida e a minha, quando Bill achasse que era seguro nós voltaríamos, ou pelo menos eu esperava que fosse assim.
Peguei uma folha de papel amaçada e rabisquei algumas palavras nela:

Vovó,
Estou bem, decidi que está na hora de passar algum tempo com os meus avôs no Brasil. Mando noticias assim que puder.
Te amo ...


Dobrei o bilhete e o joguei em cima da cama, não esperava que ela acreditasse naquilo, mas não tinha como ter certeza que era mentira uma vez que não falava português. Meu avô que costumava se comunicar com o resto da família.

Caminhei arrastando a mala ate a entrada da pequena capela na pracinha da cidade. Bill disse que estaria lá arrumando suas coisas. Bati duas vezes nas grandes portas de madeira antiga e um rapaz loiro saiu para me atender. Pelas roupas presumi que seria o tal padre amigo de Bill.

-Eu vim...

-Sei o que veio fazer. Bill está quase pronto. –Ele se afastou e fez sinal para que eu entrasse. –Pode esperar aqui dentro se quiser.

-Não, obrigada. Prefiro ficar aqui fora. 

Nunca tinha gostado de igrejas, me sentia mal perto delas e agora começava a entender o porquê .
Alguns minutos depois Bill apareceu carregando uma mochila e nada mais.

-Esta pronta? –Ele perguntou enquanto caminhávamos em direção à moto.

-Acho que sim... Você sabe o quanto isso é difícil pra mim.

-É só por um tempo. Agora que Miguel esteve aqui e percebeu que eu não vou lhe matar ele vai mandar alguém que faça isso, então é melhor não arriscar.

-Por que ele mesmo na me matou hoje quando teve oportunidade?

-Ele não é do tipo que suja as mãos, se acha superior demais para isso. Por isso manda anjos como eu.

Sem perceber deixei que algumas lágrimas rolassem pelo meu rosto. Se no dia anterior alguém me disse que eu passaria pelo o que estava passando naquele momento eu provavelmente riria na cara da pessoa e perguntaria que tipo de droga ela tinha usado. Agora, no entanto, tudo aquilo que eu considerava uma historia absurda estava sendo jogada na minha cara como se fossem tijolos.

-Para onde vamos? –Perguntei quando paramos na frente da rodoviária da cidade.

-Por enquanto vamos para Berlim, quando chegarmos lá eu descido onde será o próximo lugar. De qualquer forma podemos passar a vida fugindo que ainda não encontraremos um lugar suficientemente seguro. –Ele respondeu enquanto pegava um carrinho e jogava minha mala em cima.

-Obrigada, isso é muito reconfortante. –Disse forçando um sorriso que saiu mais parecido com uma careta de dor.



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