domingo, 23 de setembro de 2012

Na sua sombra eu posso brilhar -Capitulo 18


Como pode olhar dentro dos meus olhos como portas abertas?
Guiando você até o meu interior
Onde me tornei tão insensível?
Sem uma alma, meu espírito está dormindo em algum lugar frio
Até você encontrá-lo ali e guiá-lo de volta pra casa -Bring Me To Life


-Para onde vamos? –Perguntei observando  a paisagem do lado de fora do carro em alta velocidade.

-Para casa, querida. Onde você deveria estar me esperando. - Lúcifer disse mantendo o olha fixo à frente.

A imagem de Bill passava pela minha cabeça, seu sorriso estava lá todas as vezes que eu fechava os olhos. Não pode impedir que as lágrimas rolassem pelo meu rosto ao imaginar que ele poderia estar machucado. Encolhi-me ainda mais no banco ao lado da janela, como uma criança que procura o colo da mãe em uma noite escura.

Abracei os joelhos trêmulos e permaneci assim até que o carro parasse em frente a uma grande e antiga mansão que reconheci de imediato.  A casa que pertencia a Peter estava totalmente rodeada por homens altos e fortes, de aparências tão assustadoras que não precisava ser exatamente um gênio para deduzir que se tratava de outros demônios.

-Chegamos. –Lúcifer disse descendo do carro logo depois que um de seus homens abriu a porta para ele, em seguida o mesmo homem deu a volta no carro e abriu para mim.

Lancei um olhar assustado para casa. Parecia mais envolta em sombras do que nunca, uma recém-chegada neblina á fazia praticamente desaparecer dando a impressão que sumia e reaparecia conforme nos aproximávamos.

-Peter. O que fizeram com ele? –Perguntei quando passávamos pelas grandes portas de carvalho, mas antes que tivesse uma resposta  percebi Peter jogado tranquilamente sobre o sofá empoeirado no meio da sala de estar. Este se sobressaltou ao perceber a chegada de Lúcifer.

-Mestre. –Ele levantou-se e fez uma reverencia com a cabeça. Percebi algo de errado, as orbitas de seus olhos estavam totalmente negras assim como as dos demais presentes. –Ângela, querida, sabia que viria.

Engoli em seco. Tentei manter o ar de completa calma mesmo que meus joelhos insistissem e tremer e bater um contra o outro.

-Onde está Bill? –mantive um tom frio na voz e perguntei baixando os olhos para o assoalho.

-Claro. Bill. Você o verá.

-Se vocês tiverem encostado em um único fio de cabelo...

-Não o machucamos... –Lúcifer me interrompeu erguendo-me a alguns centímetros do chão por um dos pulsos. –Ainda. E acredito que se o tivéssemos feito você não poderia fazer nada. Não tem escolha, minha querida.

-Quero vê-lo.  Agora! –Exclamei tentando parecer o mais confiante e corajosa possível, o que não era muito se tratando da minha real situação.

Lúcifer fez sinal com uma das mãos e dois de seus ´´seguidores´´ me acompanharam por uma longa escadaria de pedras que levava a sótão sujo e mal cheiroso.  Em um canto do cômodo, sentado e com as mãos presas por correntes acima da sua cabeça, estava Bill. Suas grandes asas negras pendiam sobre o seu ombro, mas assim que notou minha presença abriram-se mostrando toda sua imponência. Os dois homens que me acompanhava saíram apresados como se tivessem levado um soco no estomago.

-Bill... –Disse me abaixando e segurando seu rosto entre as minhas mãos. –Eles te machucaram?

-Estou bem. Ângela vai embora! Saia daqui procure Miguel ele terá que te ajudar. Peste atenção, eu vou ficar bem. Não podem fazer nada contra mim, a única coisa que podem fazer para me machucar é machucar você.

-Se esta me pedindo para fugir esqueça! – Disse devagar encarando os olhos de profundo castanho de Bill. –Não vou te deixar aqui!

-POR QUE NÃO CONSEGUE ENTENDER?! VÃO TE MATAR, ÂNGELA! SE FICAR E SERVI AO QUE LUCIFER PRECISA QUE FAÇA ACABARÁ MORTA! –Bill respirava ofegante, mas diminuirá seu tom de voz e agora me lançava um olha de suplica. –Como espera que eu viva se estiver morta?

-Como você espera que eu viva sabendo que fugi e te deixei aqui para morre? E além do mais Miguel nunca me ajudaria.

-Ajudaria sim. As coisas mudaram, anjo. É melhor você viva e do nosso lado.

Antes que pudesse falar qualquer coisa os dois homens entraram novamente e me puxaram pelo ombro. Livrei-me de seus dedos e dei um beijo rápido em Bill. Segui pelas escadarias de pedra de volta a sala lançando um olhar de desafio as duas ´´sombras´´ que me seguiam.

-Peter, quero que leve Lu... Ângela ate os seus aposentos e a prepare. Precisaremos de sua ajuda hoje à noite. – Lúcifer disse assim que me viu entrar na sala. Peter assentiu e depois de uma reverencia agarrou meu braço esquerdo e arrastou-me novamente pela escada e depois por um longo corredor.

-Entre. –Ele disse abrindo a ultima porta no final do corredor e me jogando dentro do quarto.

Era escuro e cheirava desagradavelmente a mofo e comida estragada. Em um canto estava uma grande cama de casal coberta por horríveis endredos vermelho berrante  e no outro um pequeno armário corroído por cupins.

-O que querem que eu faça a noite? –Perguntei caminhando pelo cômodo e sentando-me na cama que cedeu sob meu peso.

-Você não fará nada. Digamos apenas que é como uma gigantesca garrafa de ´´energético´´.

-O que quer dizer?

-Que só precisamos de você, ou melhor, do que tem correndo em suas veias  para ficarmos fortes o bastante para derrotar Miguel e seus anjinhos.

Fiquei parada ali durante horas sem mexer nem seque um músculo. O crepúsculo já cairá lá fora quando finalmente a porta foi escancarada e Lúcifer entrou seguido por Peter e mais dois homens que nunca virá antes.

-Está pronta?  -Perguntou com a voz fria rodando uma pequena adaga prateada entre os dedos finos.

-Deixaram que ele saia vivo?

-Sim.

Estendi ambos os pulsos, talvez lá no fundo eu soubesse o que estava fazendo ali. Meu sangue era uma espécie de bebida energética ou coisa do tipo, desde meu nascimento cada passo me guiará ate aquele momento.
A lamina afiada cortou ambos meus pulsos. Dei um grito alto e agudo assim que a dor tomou conta de meus braços e o sangue espirou sobre as cobertas.

Como se tivesse esperado pelo aquele momento durante todas suas vidas todos os presentes se debruçaram sobre mim e cravaram as bocas sobre meus pulsos ensanguentados.  Gritei sentindo a dor insuportável e o sangue deixando meu corpo, me senti como uma boneca de pano velha e gasta quando Lúcifer se afastou junto com os demais.

Minha respiração era lenta e minha visão turva, mas pude ver pouco antes de perde a consciência, Miguel entrar seguido por mais alguns anjos e dentre eles reconhecia as grandes asas negras que estavam cada vez mais próximas de mim.

-Anjo, anjo! Ângela, por favor fala comigo. –Bill gritava segurando meu corpo em seus braços.

Tarde demais, como se minhas pálpebras fossem pesadas demais para continuarem abertas as fechei depois de um grande esforço para manter  a consciência.  Agora estava caindo por uma escuridão sem fim, ao fundo ainda podia ouvir os gritos de Bill e um coração que pulsava cada vez mais lentamente.

Senti uma mão envolver meu pulso e me puxar de volta. Abri lentamente os olhos, o clarão do ambiente me segou  por alguns instantes e quando finalmente pude ver com precisão me deparei com Bill sentado ao meu lado. Corri o olhar pelo ambiente, estava  em casa.

-Acabou? –Perguntei com a voz fraca.

-Nunca vai acabar.

-Foi você quem me...

-Não. –Bill me interrompeu. –Foi Miguel.

-Por que?

-Por que ele finalmente percebeu que é bem melhor tê-la segura e do nosso lado e que se a matássemos Lúcifer a traria volta afinal já fez isso uma vez.

-Isso significa...

-Significa que sou seu novo... –Bill passou a língua pelo lábio inferior como se procurasse o termo certo. – Anjo da guarda traço namorado.

Ele selou seu lábios nos meus e após alguns segundo, minutos, horas, talvez dias se afastou sorrindo.

-Acabou, anjo. Pelo menos por enquanto.

THE END!





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