Na nossa frente o céu se abre
Nós faremos isso juntos
Depois do fim desse mundo
Que cai atrás de nós - Übers Ende der Welt
Meia hora depois estávamos dentro de um ônibus direto para
Berlim.
-Vai ficar tudo bem, anjo. –Bill disse passando o braço em
volta do meu ombro.
-Não me chame mais assim. Nós dois sabemos muito bem o que
eu sou.
-Ei, você é o meu anjo.
Dei um sorriso forçado e tentei parecer absolutamente
natural quando fiz a perguntas a seguir.
-Bill, por que eu sou... Você sabe. –Senti os músculos dele
se enrijecendo ao meu lado, parecia totalmente desconfortável.
-Eu acho que essa não é a hora para falarmos disso.
-E eu acho que não teria hora melhor.
Ele arrumou-se na poltrona ao meu lado de forma que ficava
parcialmente virando para mim. Observou meu rosto por alguns instantes, me
senti perdida naqueles olhos castanhos.
-É complicado. Quando sua mãe descobriu que estava grávida
ela e seu pai tinham acabado de ser casar e ficaram muito felizes, mas em um
fim de semana quando viajavam para visitar seus avós o seu pai perdeu o
controle do carro e este capotou. Os
dois sobreviveram, mas você não. –Bill fez uma pausa e pareceu perdido em seus
pensamentos por alguns segundos, como se revivesse em sua mente o que tinha
acontecido no passado. – Eu estava lá, podia ouvir sua mãe implorando pela sua
vida. Não podia fazer nada. Nós, anjos, temos algumas regras, a mais importante
delas é: O que está morto deve permanecer morto. Mas nem todo mundo cumpre regras, naquela
noite Lúcifer a visitou, prometeu que te traria de volta em troca você, sua alma,
seu corpo seriam dele. Você seria sua própria
filha e quando precisasse viria te buscar.
-Ela aceitou... –Eu disse mantando o olhar fixo no chão,
minha cabeça parecia preste a explodir, era informação demais.
-Sim, temporariamente aceitou, mas quando percebeu pelo o
que você passaria resolveu fugir. Então antes que nascesse seus pais se mudaram
para o Brasil. Fugir do diabo é estupidez, não demorou muito para ele
encontra-los e mata-los.
As lágrimas rolaram pelo meu rosto, Bill envolveu seus
braços em torno de mim e me puxou para um longo abraço.
-Ele precisa de você agora. –Bill disse depois de um tempo.
-Para que?
-Ninguém sabe.
Algumas horas depois o ônibus parou na frente de uma grande rodoviária
que eu deduzi ser a de Berlim.
-Chegamos. –Bill disse me lançando um sorriso animado. –Vou pegar
nossas malas, arrume um táxi para nós.
-Para onde vamos.
-Conheço um lugar que cabe no meu orçamento.
Desci a pequena escada do ônibus e caminhei ate a rua, um
táxi passou apressado, fiz sinal com a mão e ele parou a alguns metros de mim.
Segundos depois observei enquanto Bill corria em minha direção com a pequena
mochila nas costas e a mala enorme nos braços.
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