Quando é hora de viver e deixar morrer?
E você não consegue tentar mais uma vez
Algo dentro deste coração morreu
Você está em ruínas -21 Guns
Acordei com a luz que entrava pela fresta aberta da cortina
batendo contra o meu rosto. Abri os olhos de vagar tentando reconhecer o
ambiente, procurei por Bill ao meu lado. Ele não estava. Puxei as cobertas
sobre o meu corpo e caminhei pelo quarto.
-Bill? Bill,
você tá aqui? –Perguntei abrindo a porta do pequeno banheiro, não recebi
resposta.
Meu coração acelerou com a mais remota possibilidade dele
ter partido e me deixado ali, sozinha, assustada e desprotegida. Caminhei de
volta ate a cama e vesti sua camiseta que estava jogada no chão.
Em Bill ela era justa e ficava no tamanho exato, já em mim
caia ate a metade das coxas.
Sai do quarto com pressa sem ter muita certeza do que faria,
caminhei ate a recepção e acordei aos gritos a senhora que cochilava sentada na
velha cadeira de madeira.
-O rapaz que subiu comigo ontem, um alto, cabelos negros,
muito magro e pálido, você o viu? –Falei
sem parar nem ao menos para respirar.
-Claro, eu me lembro dele. Figura difícil de esquecer. – A
senhora disse esfregando o queixo como se tentasse lembra nitidamente da imagem
de Bill. –Não, não o vi hoje. Desculpe, mas ninguém saiu dos quartos.
Assenti e caminhei de volta ate o longo e escuro corredor,
eu sabia que Bill poderia facilmente ter saído daquele motel sem que ninguém o
visse, mas algo lá no fundo dizia que não era isso que estava acontecendo. Como
uma voz gritando dentro da minha cabeça: ´´PERIGO! PERIGO!´´
Abri a porta de carvalho, o número 483 pendeu e por um único
prego não caiu aos meus pés. Assim que
entrei no quarto percebi que algo estava realmente errado, um forte odor de
enxofre poluía todo o ar o tornado quase irrespirável.
-Lucy! –Ouvi uma voz roca falar a minhas costas. Por algum
motivo notei que talvez Lucy fosse eu. Virei-me devagar. Um homem alto, com
cabelos negros e pele bronzeada me encarava com um sorriso amedrontador nos
lábios .
-Desculpe, não sou Lucy. Me chamo Ângela. Acho que talvez o
senhor esteja no quarto errado. –Disse ainda mantendo os olhos fixos no homem
parado a minha frente.
-Não, não estou... Ângela. Não esperava que eles tivessem
dado esse nome para você. Chega a ser irônico, significa anjo, não é mesmo?
–Assenti. –Está procurando por Bill?
Dei alguns passos para trás quando finalmente tive alguma
ideia de com quem eu estava falando. Minhas costadas bateram dolorosamente
contra a parede, mas nem ao menos senti a dor. Meus olhos permaneciam fixos nos
do homem alto a minha frente e minha mente viajava tentado intender onde Bill
poderia estar e pior ainda se ainda estaria vivo. Algumas lágrimas brotaram nos
meus olhos e escorreram pelo meu rosto, aprecei-me em limpa-las.
-Q- quem é você? –Perguntei com a maior convicção que podia fingir.
-Alguns me chamam de diabo, satanás, Lúcifer... Mas você,
querida, você pode me chamar de papai.
Espalmei as duas mãos na parede as minhas costas tentando manter
o equilíbrio. Ou talvez com a esperança de atravessar esta e volta à noite passada,
onde estava segura e feliz ao lado de Bill.
-O que você fez com ele?
-Bill? Ele está bem e vai continuar bem se você fizer o que
eu mandar.
-Faço. Faço qualquer coisa, só não o machuque e me deixe vê-lo.
Agora.
-Ele não está aqui, terá de voltar comigo.
-Voltar para onde?
-Para casa. Não pensou que ia longe, não é? Não seria tão
idiota a ponto de cometer o mesmo erro que seus pais.
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