´´Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto."
-Caio Fernando Abreu
Com o passar dos dias ,das semanas ,dos meses cheguei a conclusão que mesmo podre e morta por dentro ,quase em estado de decomposição ,eu deviria seguir em frente .Se Georg tivesse gostado ao menos um pouco de mim gostaria que eu fizesse isso ,que seguisse em frente sem mais medo ,sem mais dores .
O único porém estava no fato de ele ainda está lá ,tão vivo dentro de mim que quase podia sentir seu coração batendo no mesmo ritmo que o meu ,mas isso não mudaria minha decisão .Eu era nova de mais para morrer por amor .
Levantei-me com uma pequena fresta de luz que entrava por um buraco nas tabuas que fechavam a janela do meu ´´quarto ´´ .Me olhei no espelho ,estava apresentável ,meus cabelos finalmente tinha começado a crescer e já tinham um tamanho aceitável .Coloquei minha melhor roupa ,o melhor perfume ,que por sinal era o único ,abri a porta daquele comodo decidida a dar a volta por cima .
Caminhei pelos longos corredores do hospital e parei na frente de um velha porta enferrujada .Entrei sem bater .
Na ultima cama ,ao lado de uma janela quebrada ,Guilherme dormia profundamente ,segui ate ele ,não o acordei ,apenas me debrucei sobre a cama improvisada e toquei seus lábios .
Senti suas mãos envolverem minha cintura e me puxar para mais perto ,sua boca tocou a minha com todo o desejo de quem esperava por aquele momento a muito tempo ,fechei os olhos e me assustei com o que vi no fundo da minha mente .
A imagem de Georg me veio a mente tão claramente que me senti pega em plena traição.
Afastei-me de Guilherme e corri em direção a porta ,não olhei para trás e não queria olhar ,eu tinha tanta certeza de que Georg estava vivo quanto tinha de que precisava sair dali .
Tentei abrir a porta ,mas antes de conseguir senti as mãos geladas de Guilherme me puxarem de volta ,dei meia volta e o encarei nos olhos .
Seus olhos negros pareciam repentinamente mais sombrios .
-Eu sabia que você vinha ,um dia ...-Ele me encostou contra a parede e contornou meu pescoço com beijos .Nunca tinha me sentido tão suja .
-Eu vou embora ...Agora .-Me livrei dos seus braços e com um pouco mais de esforço consegui abrir a porta .
Estava virando a direita no corredor em direção ao meu quarto quando ouvi a voz de Guilherme .
-VOCÊ VAI VOLTAR ,SEMPRE VAI VOLTAR .ELE NÃO ESTÁ VIVO ,ANNE ! NÃO MAIS !-Pela primeira vez notei que Guilherme tinha uma certa felicidade em dizer aquelas palavras para mim ,era quase como se sentisse que tivesse ganhado uma grande batalha e que agora jogava a vitoria na cara do oponente derrotado e sangrando no chão ,e era exatamente assim como eu me sentia .
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