sexta-feira, 27 de julho de 2012

Na sua sombra eu posso brilhar -Capitulo 3


Tenho esperado aqui por muito tempo
Mas agora o momento parece haver chegado
Eu vejo as nuvens negras se aproximando outra vez -Monsoon 

Observei enquanto Bill desaparecia através da nevoa. Dei um ultimo suspiro de liberdade antes e entrar em casa. Meus avós não estavam e eu sabia, mas a verdade era que nunca me sentia sozinha naquela casa. Era como se  sempre tivesse alguém me observando.

No começo essa presença fantasmagórica era consoladora e às vezes ate acolhedora. Acreditava que eram os espíritos dos meus pais me protegendo, mas de uns anos pra cá isso começou a me assustar  .A verdade era que eu não acreditava em nada dessas coisas ,mas mesmo assim tinha medo .

Subi correndo as escadas, joguei a mochila me cima da cama e liguei o computador. Tinha pelo menos dez mensagens de Milena, do tipo ´Gostou do novato ,ne ? ´´ ´´Vai dar uns pega nele? ´´. Depravada como sempre, pensei antes de me jogar na cama e adormecer.

Acordei algumas horas depois com o som de passos nas escadas. As velhas tabuas rangiam a cada passo .Passos que pareciam cada vez mais próximos do meu quarto .Estiquei a mão ate alcançar o pequeno despertador .Seis da tarde .Ainda era cedo para os meus avós estarem em casa .

-Vó?Vô?São vocês? –Perguntei me levantado da cama e caminhando ate a porta. A abri com cuidado, caminhei pelo longo e escuro corredor ate alcançar  as escadas .Não tinha ninguém .Pelo menos foi o que pensei .

Senti o calor da respiração de alguém na minha nuca, virei-me de vagar e me assustei ao ver Peter ali. Ele me encarava como se estivesse pronto para me matar.

-O-O que você tá fazendo aqui? –Xinguei-me em pensamento por não conseguir falar sem gaguejar .

-Te vi voltando da escola com ele.

-E daí?

-DAÍ QUE EU DISSE PARA VOCÊ NÃO SE APRÓXIMAR DELE! –Estremeci quando Peter envolve seu braço pelos meus ombros. -Meu bem, estou te avisando pela ultima vez. Se não se afastar dele as consequências serão muito prejudiciais para você.

-Ele é só um amigo... Talvez nem isso. Nem o conheço.

-Não é só a ele que você não conhecer. Se chegar perto daquele cara outra vez quem vai sofrer as consequências são os seus avós.

Peter tinha deixado de lado o tom casual e dado lugar a um tom de voz sombrio e ameaçador. Antes que pudesse dizer qualquer coisa ele me deu as costas e começou a descer calmamente as escadas.

Meu coração ainda batia descontroladamente quanto decidi que precisava sair um pouco para me acalmar. Vesti o casaco depressa e sai porta a fora. O vento frio batia contra o meu rosto me fazendo tremer e apertar os braços em volta do corpo. Olhei o céu, algumas nuvens negras se aproximavam e uma tempestade com certeza estava a caminho.

Parei na pequena e antiga praça rodeada de antigos carvalhos que ficava do lado da capela da cidade. O lugar parecia ter saído direto de algum conto de terror. A verdade era que eu quase nunca ia ali, igreja não era bem minha praia, nunca me senti  confortável perto de uma .

Sentei-me em um pequeno banco de madeira pitado de braço e fiquei ali, apenas observando as poucas pessoas que passavam apressadas e as nuvens que faziam uma espécie de dança sombria no céu.

Devia estar ali há horas, quando senti o calor de uma mão envolvendo o meu ombro .Virei-me assustada e dei de cara com Bill .

-Posso sentar?-Ele perguntou com um sorriso.

-Claro. –Naquele momento as palavras de Peter passaram pela minha cabeça e tudo que eu queria era inventar uma desculpa para me levantar dali e ir embora.

-Você está bem? Esteve chorando de novo?

-N-não... Eu preciso ir embora. Tenho... Tenho lição de casa.

Apressei-me em sair o mais rápido que pude sem olhar para trás, mas ainda podia sentir o calor da mão de Bill no meu ombro durante todo o caminho de volta para casa.


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